sexta-feira, 2 de maio de 2014

Axiomas e Postulados

     Na Antiguidade Clássica, era habitual distinguir axiomas e postulados. Axiomas (expressões de alta densidade) seriam "verdades gerais", independentes do tema em foco, aplicáveis em quaisquer casos. De outra parte, postulados seriam "verdades temáticas", ou seja, verdades específicas, aplicáveis em circunstâncias determinadas e limitadas. Em tempos modernos, mostrou-se que muitas "verdades" julgadas incontestáveis eram, surpreendentemente, inaplicáveis em certos domínios. Por exemplo, o axioma: "o todo é maior que as soma das suas partes", mostra-se falso quando se consideram conjuntos infinitos.

     Com efeito, no domínio da persuasão, a expressão: "Navegar é preciso, viver não é preciso" (Navigare necesse est, vivere non est necesse), foi trabalhada por poetas, artistas, políticos, educadores, cientistas, jornalistas, etc. Entretanto, essa expressão fora cunhada com o objetivo de abastecer Roma, por Pompeu (106-48 a.C), no ano 70 a.C., como conta Plutarco, na sua Vida de Pompeu. Pompeu era um bravo. Roma sofria crise de abastecimento e começava a faltar trigo no império. Pompeu armou suas naus - e foi buscar trigo onde houvesse. Com os porões abarrotados, ele se preparou para a travessia do Norte da África até Óstia, o porto que então servia à capital do mundo. Armou-se uma tempestade e os marinheiros temeram enfrentar as ondas do "mare mostrum", que em geral era sereno, mas quando engrossava trazia a cólera dos mansos ensandecidos. Foi então que Pompeu gritou para os remadores: "Navigare necesse est, vivere non necesse". Roma não morreu de fome - e deve-se a façanha ao impacto de uma frase. 

     Pois bem: expressões como essas, costumam inspirar interesses diversos, sem perder a essência e quando adotadas fora do contexto próprio, costumam causar problemas importantes. Sendo assim, segundo Leôncio Martins Rodrigues (Professor de Ciência Política, in O ESP, 12-08-04, p. A2), trata-se de um lema particularmente apreciado pela intelectualidade jovem, como símbolo do heroísmo, da ousadia, da coragem, da vontade, de saber fazer a hora e de não temer a morte. Por instigar a audácia de avançar, a supremacia da vontade, a capacidade de se opor aos fatores adversos e o desprezo pela morte, a divisa tem sido evocada no campo político sem que os que a utilizam, especialmente quando são de esquerda, se deem conta da armadilha ideológica no apelo desafiador da morte. Por isso, conclui, se navegar é preciso, cumpre estar atendo para os escolhos ideológicos.

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