sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O Dom Supremo

     Na perspectiva externa e relacional, em que há a consideração com o outro, quer significar: justo, o ato de justiça; amoroso, o ato de amor; caridoso, o ato de caridade. Por esse viés, esses três atos são implicativos. Daí fazendo um deslocamento, temos a apresentação do Dom Supremo, cujo discurso foi elaborado por Henry Drummond, publicado, pela primeira vez em 1890. Esse autor nasceu em 1851, em Stirling, na Grã-Bretanha; dedicou -se ao ensino de Ciências Naturais, em Glasgow. Morreu jovem, aos 43 anos, depois de se tornar conhecido em vários países, com seu inesquecível trabalho, começando por um trecho da epístola de Paulo aos Coríntios: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda ciência; ainda que eu tenha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A amor jamais acaba. Mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará. Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos. Quando, porém, vier o que é perfeito, o que então é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como um menino, sentia como um menino. Quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque agora vemos como em espelho, obscuramente, e então veremos face a face; agora conheço em parte, e então conhecerei como sou conhecido. Agora, pois, permanecem a Fé, a Esperança, e o Amor. Estes três. Porém, o maior deles é o Amor.". Quando acabou de ler, Henry fechou a Bíblia, olhou para o céu, e começou a falar. Quando o rapaz acabou de falar, o sol já havia se posto. As pessoas se levantaram, em silêncio, e foram para as suas casas. Nunca mais, pelo resto de suas vidas, esqueceriam aquele dia. Haviam sido tocadas pelo Dom Supremo, e desejaram, naquele instante, que aquela tarde fosse lembrada por muito tempo. "Embora não possa ser lembrada para sempre", pensou um deles, consigo mesmo. Porque, como bem havia dito o rapaz, só o Amor permanece. Pois bem, esse texto vem em atenção às angústias presenciadas por inúmeras pessoas, ante a crise generalizada pela qual estamos atravessando. Enfim, o certo é que "[...] é próprio da justiça, [...], o governar retamente todas as coisas sujeitas ao homem" (Santo Agostinho); e "A justiça guia o caminho do simples" (Prov. 9,5); e que "[...] a essência da justiça radica em que a sociedade dos homens e a vida comunitária se regem por ela" (Túlio). Disso tudo implica considerar que o Amor, a Justiça, a Caridade, a Autoridade, o Homem, a Sociedade e a Ação, são todos ingredientes necessários para a transformação tão almejada.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Política: Apologia da Época Moderna

     "Discurso sobre a História Universal é um curso de história geral, escrita para a instrução do Dauphin. Ele viaja o tempo desde a criação até o tempo de Carlos Magno. Depois de um resumo cronológico dos principais acontecimentos, na primeira parte, intitulada "eras", Bossuet narra em "A suíte da religião", estágios da expansão cristã, desde Moisés até o triunfo da Igreja. Na terceira parte, "Empires", Bossuet estudando antigos impérios, analisa as causas de sua grandeza e sua decadência, sua unificação pelos romanos, o que facilita a propagação do Evangelho. Explicando todos os eventos, no plano divino, do triunfo do cristianismo, o livro é, apesar da riqueza de informações apresentadas, ao inés de um historiador do que um teólogo comprometido com a educação do príncipe, como sugere que este discurso de abertura: "Quando a história seria inútil aos homens, ele deve tê-lo lido para os príncipes. Não há melhor maneira de conhecer-lhes o que podem as paixões e interesses, tempos e circunstâncias, tanto bons quanto maus conselhos." Jacques Begnine Bossuet nasceu em 27 de setembro de 1627, na França. Nasceu em família de magistrados, em Dijon, onde recebeu educação no colégio jesuíta. Foi autor de 'La Politique tirée de l'Écriture sainte", publicada postumamente em 1709, na qual defende a teoria do Direito divino dos reis justificando que Deus delegava o poder político aos monarcas, conferindo-lhes autoridade ilimitada e incontestável. E o caso mais exemplar de governante que se serviu das idéias de Bossuet foi Luís XIV de França, chamado "Rei Sol". Bossuet está ciente das diferenças entre a política dos antigos e dos modernos. Ele sabia que as repúblicas da antiguidade valorizavam a coragem que é a virtude do patriota e que realizada em baixa estima independente da vida privada e da proteção das atividades de aquisição e de permuta. Com efeito, os egípcios dizem que os gregos aprenderam "a ser dócil e se deixar formar por lei para o bem público", graças a "excelente política". Os egípcios e os gregos entendiam que uma sociedade não pode ser uma simples adição de "indivíduos que só pensem em seus negócios e que não sentem os males do Estado na medida em que eles próprios sofrem ou que sua família é perturbada". Porque a cidade sentia ameaçada de perder sua independência e os cidadãos que a compõem são menos do que os homens. É por isso que os gregos foram instruídos a assistir a sua família como parte de um corpo maior que era o corpo do Estado. Para eles a perfeição civil, nem a delicadeza de maneiras ou a deferência mútua torna os homens sociáveis. Sabiam que essas qualidades - que para os modernos estão no auge e onde veem a mais elevada perfeição da civilização humana - sempre acompanhada por um afrouxamento dos laços cívicos e da coragem, bem como a renúncia a tal direito de investigação conjunta que distingue os homens dos animais. A perfeição política não era, portanto, para os gregos, o polimento natural de ferocidade do homem a ensiná-lo a conviver pacificamente com os semelhantes e seus bens; era a capacidade da cidade para formar bons cidadãos, como membros do Estado e de governar a si mesmos, ajustando sua conduta na justiça racional após a deliberação comum. É precisamente por esta submissão a uma lei razoável e reconhecida por todos que os gregos definiram a liberdade; graças a esta subjugação, afirma Bossuet, os povos antigos foram capazes de evitar que "os homens tivessem poder entre eles". Os magistrados não eram obedecidos por serem servos e instrumentos da razão contida na lei: esta última é que elabora, estabelece regras e seu poder "castigava a má administração". Enfim, Bossuet sabe das vantagens de tal política (os cidadãos, segundo ele, "gostam especialmente de seu país enquanto dirigem em comum e que cada indivíduo poderia alcançar as honras primeiro"; ele também sabe os defeitos da licença quando, como em Atenas, as leis não são fortes o suficiente para impedir as pessoas de agir em sua fantasia e que o mais importante, como em Esparta, é a rigidez da moral e "eu não sei fazendo espíritos ferozes, orgulhosos e atraente".

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O Político e o Educador

     O objetivo destes apontamentos é traçar uma concepção abrangente da relação complexa entre a Política e Educação, portanto: não se trata de política partidária. Foi elaborado mediante recortes de Sólon e Aristóteles. Com efeito, para Sólon: "O povo seguirá melhor aos seus líderes se não for livre demais e nem contido demais, pois o excesso produz atitudes insolentes quando as grandes fortunas ficam nas mãos de homens que carecem de condições de julgamento.". Em Aristóteles encontra-se a proposição: "[...] o objetivo da vida política é o melhor dos fins, e essa ciência dedica o melhor de seus esforços a fazer com que os cidadãos sejam bons e capazes de nobres ações" [...]; [...]"a fim de ouvir inteligentemente as preleções sobre o que é nobre e justo, e em geral sobre temas de ciência política, é preciso ter sido educado nos bons hábitos."; [...] "E não faz diferença que seja jovem em anos ou no caráter; o defeito não depende da idade, mas do modo de viver e de seguir um após outro cada objetivo que lhe depara a paixão."; "[...] "Ninguém duvidará de que o seu estudo pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das outras, de modo que essa finalidade será o bem humano. Com efeito, ainda que tal fim seja o mesmo tanto para o indivíduo como para o Estado, o deste último parece ser algo maior e mais completo, quer a atingir, quer a preservar. Embora valha bem a pena atingir esse fim para um indivíduo só, é mais belo e mais divino alcançá-lo para com uma nação ou para as cidades-Estados."; "[...] Ligada ao assunto que acabamos de de discutir está a questão sobre se precisamos considerar as mesmas, ou não, as virtudes de um homem virtuoso e as de um cidadão sério e zeloso. Devemos, procurar uma concepção sobre a virtude de um cidadão. Um cidadão é uma parte da comunidade, como o marinheiro o é em relação à tripulação; embora cada membro da tripulação tenha sua própria função, e um nome que se ajuste a ela - remador, timoneiro, vigia -, e possua portanto sua virtude naquele trabalho em particular, há também uma espécie de virtude que toda a tripulação deve ter, uma função da qual todos desempenhem um papel: a condução segura da viagem; pois cada membro da tripulação objetiva assegurá-la. De modo similar, o objetivo de todos os cidadãos, não importa quão dessemelhantes possam ser, é a segurança da comunidade, isto é, a constituição da qual são cidadãos. Desse modo, a virtude do cidadão deve sê-lo em relação à constituição; e, se houver mais espécies de constituições, não apenas uma, então não pode haver uma única virtude perfeita, na qual se encaixe o cidadão virtuoso. Por outro lado, dizemos que o homem virtuoso o é por causa de uma única virtude perfeita. Está claro, então, que é possível ser um cidadão virtuoso e sério sem ter a virtude que torna virtuoso um homem virtuoso. Analisemos o assunto por outro ângulo e consideremos a virtude da melhor constituição, supondo que seja possível, para um Estado, consistir inteiramente de homens virtuosos e zelosos; cada qual devia então fazer, e bem, seu próprio trabalho; executá-lo bem depende da virtude de cada qual em relação a ele. Mas, uma vez que é impossível que todos ps cidadãos sejam semelhantes, então pode haver virtudes semelhantes no cidadão e no homem virtuoso. Pois a virtude do cidadão virtuoso deve estar ao alcance de todos; apenas assim pode o Estado, em si, ser realmente virtuoso. Mas é impossível, a todos, ter a virtude do homem virtuoso, a não ser que seja condição essencial, para uma cidade virtuosa, que todos os cidadãos sejam homens. Uma cidade compõe-se de partes diferentes. Assim como uma animada consiste de corpo e mente, e a mente consiste de raciocínio e desejo, e uma família consiste de marido e esposa, e um negócio consiste de senhor e escravo, assim também uma cidade se constitui de todas essas coisas e de muitas outras, todas diferentes. As virtudes de todos os cidadãos não podem, portanto, ser uma, não mais do que, num coral, as virtudes do líder e dos que estão a seu lado são uma. Embora, em geral, isso seja perfeitamente verdadeiro, pode-se perguntar se não é possível, num caso específico, que a mesma virtude pertença tanto ao cidadão virtuoso quanto ao homem virtuoso. Poderíamos responder que caso assim existe, uma vez que tomamos como certo que um bom governante é a um só tempo virtuoso e sábio, e a sabedoria é essencial para a pessoa envolvida com os trabalhos do Estado. (Alguns dizem que essa é uma questão de educação e que deve haver um tipo de educação diferente para os governantes. Exemplificam: a) o treinamento dos filhos da realeza na equitação e na guerra; b) um ditado de Eurípedes, que supostamente se refere à educação da classe governante: "Nada de supérfluo na educação, por favor; apenas aquilo que interessa à nação".) Embora possamos dizer que a virtude é a mesma no bom governante e no homem virtuoso, pois o governado também é cidadão, não podemos afirmar, em absoluto, que as virtudes do cidadão e do homem sejam uma; somente dizemos que isso pode vir a acontecer no caso de um cidadão específico. Pois certamente as virtudes do governante e do cidadão não são as mesmas. E tal, sem dúvida, é o motivo pelo qual o Jasão de Férae disse que passaria fome no momento em que deixasse de ser governante, pois essa era a única espécie de trabalho que sabia exercer. Mas certamente é bom aprender a obedecer, tanto quanto comandar, e creio que podemos dizer que a virtude do cidadão é exatamente esta: saber bem como governar e como ser governado. Se, então, dissermos que a virtude do governante é ser bom em governar, e que a virtude do cidadão é ser bom tanto em governar como em obedecer, as duas virtudes não podem ser do mesmo nível. Há algo assim numa regra despótica. O trabalho, quando feito nessas condições, é necessário mas servil; o senhor só precisa saber como usar tal trabalho. Alguma coisa mais - como ser capaz de desempenhar, e realmente o fazer, o trabalho dos servos - é simplesmente servil. Isso se aplica a vários tipos de trabalho, incluindo os manuais, especializados ou não; apenas nas democracias radicais os artesãos conseguem ocupar cargos públicos. Então o trabalho daqueles que estão sujeitos a um senhor não é algo que ou o homem virtuoso, ou o estadista ou o cidadão virtuoso precisem apender, exceto para o uso que podem fazer dele. De outro modo, a distinção entre senhor e servo simplesmente deixaria de existir. Mas existe outra espécie de regra: a exercida entre homens livres e iguais no nascimento. Nós a denominamos "constitucional" ou "política". É ela que um governante deve primeiro aprender, e a aprende ao ser governado, assim como em qualquer arma alguém aprende a comandar sendo, primeiramente, um oficial júnior. Este é um princípio justo; não é possível ser bom comandante sem primeiro aprender a obedecer. Não que o governo e a obediência virtuosos sejam a mesma coisa; mas o cidadão virtuoso precisa ter o conhecimento e a habilidade tanto de governar como de ser governado. É isso que entendemos por virtude de um cidadão - entender o  governo de homens livres por homens livres. Voltando ao homem virtuoso, encontramos a mesma ambivalência; ele é virtuoso quer governe, quer seja governado. E isso é verdade até mesmo quando o bom comportamento e a justiça não são os mesmos num assunto como o são da esfera do governo. Pois está claro que a virtude (por exemplo, a justiça) de um homem virtuoso, livre mas governado, jamais será uma e a mesma; tomará formas diferentes, de acordo com sua condição, de governante ou de governado, assim como os padrões de bom comportamento e a coragem variam entre os homens e as mulheres. Um homem pareceria covarde se tivesse somente a coragem da mulher; uma mulher pareceria loquaz se fosse não mais reticente do que um homem bem-comportado. Homens e mulheres desempenham diferentes papéis, no lar; ele conquista, ela cuida. Mas, para um governante, a única qualidade especial, ou virtude, é a inteligência; todas as outras pertencem, assim me parece, a governados e a subordinados. A qualidade necessária de um subordinado não é a inteligência mas a informação correta; ele é como a pessoa que faz flautas, enquanto o governante é aquele que a toca.". Pois bem, o recorte foi longo e valeu a pena aos propósitos almejados. É que a relação entre a Política e a Educação consiste numa estrutura composta de muitas camadas e de vários níveis. Esses níveis devem ser entendidos tanto no sentido de modos de consideração de pontos de vistas quanto no sentido de dimensões da relação objetivamente existente da Política com sua história e com a Educação. O contexto procurou deixar claro qual o sentido mais preciso que se tem em mente em cada caso.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A Mulher e a Autonomia Intelectual

     Como sustentaram José Américo: "Há sempre uma mulher no íntimo de todas as grandes coisas."; e Hazel Henderson: "Os cientistas também fazem notar que é ilógico pensar que a repetição de um experimento similar possa conduzir a resultados não-similares.". Sendo assim, é perceptível que a mulher conseguiu notáveis avanços, em todos os domínios. Só que ela tem um problema a resolver, qual seja o de construir uma doutrina própria. Por séculos, ela vem seguindo os fundamentos teóricos masculinos, os quais seguem o princípio da competição; ao passo que os fundamentos teóricos femininos seguem o princípio da cooperação. A lógica masculina, da competição, vem por séculos se impondo e ganhou mais intensidade desde a idade moderna. Ela trabalha com a ideia de esgotamento, basta ver o que acontece com a questão ambiental e com a da economia; ao final, ela gera consequências de insatisfação e não resolve os conflitos. Daí que a sugestão da prática de esportes como instrumento para combater a violência tem se revelado inadequada. Os resultados estão aí, visíveis. A feminina gera conforto, equilíbrio. O que se propõe não é a oposição entre uma e outra, porque se assim fosse, acabaria caindo no mesmo resultado - competição - só o nome teria mudado, a prática não e isso não interessa. Então, o que se imagina é a perspectiva de complementariedade entre ambas. Tanto a competição como a cooperação são essenciais nas sociedades humanas. Por esse viés de entendimento, é bem provável que cheguemos ao pensamento esboçado por Vaclav Havel, de que: "Na atualidade, o mais importante, na minha opinião, é estudar os motivos pelos quais a humanidade nada faz para afastar as ameaças que tão bem conhece, e porque ela se permite ser conduzida por um tipo de movimento permanente. Não é suficiente inventar novas máquinas, novas regulamentações, novas instituições. É necessário mudar e melhorar nossa compreensão acerca da verdadeira finalidade de nossa existência e o porquê de estarmos neste mundo. É somente com essa nova compreensão que poderemos desenvolver novos modelos de comportamento, novas escalas de valores e metas e, consequentemente, investir nas regulamentações globais, tratados e instituições com um novo espírito e significado." Desse modo, com a construção de uma doutrina feminina, fundamentada no princípio da cooperação, interagindo com a masculina, fundada esta no princípio da competição, terá sido criado um novo sujeito pensante e a sociedade terá atingido o justo meio. É evidente que a competição não é de todo nociva; e só precisa de uma parceria.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Poder e Governo

      A literatura política-jurídica faz largo uso da palavra poder e derivativos. Ocorre que, no sentido ontológico da palavra, essa palavra só deve ser entendida, quando se trata de eventos humanos, de forma metafórica. É que o homem, em rigor, não tem poder; no máximo é detentor de governo ou governabilidade. Assim é que o poder é indivisível; porém a literatura o divide: poder executivo, poder judiciário, poder legislativo, poder econômico, poderio bélico etc.. 

     O conceito de governo expressa que "consiste no conjunto dos órgãos a que se acha entregue a direção de um país e, de modo especial, no órgão supremo ao qual todos outros se acham subordinados, e que pode ser uma pessoa, ou um grupo de pessoas. Foi Aristóteles (384-322 A.C.) quem estabeleceu a classificação, ainda hoje adotada, das formas de governo, distinguindo: a) a monarquia, na qual o 'poder' (o governo ou a governabilidade) se encarna em uma pessoa; b) a aristocracia, na qual o mesmo se acha entregue a um grupo de pessoas; c) a democracia, na qual é o povo que exerce o  'poder' (o governo ou a governabilidade), por intermédio de representantes eleitos. Assim, a existência de um governo é um imperativo da vida social, manifestado em todos os tempos, desde as sociedades mais primitivas. No entanto, só nas grandes civilizações antigas a estrutura do governo começa a oferecer uma sistematização, de tal modo que é passível citar como a mais antiga forma de governo constituído o despotismo oriental, de que foram exemplos marcantes o Império Persa, o Egito dos faraós, a milenar Monarquia Chinesa que perdurou até os tempos contemporâneos. Na Grécia Antiga, surgiu uma democracia que se poderia chamar aristocrática, porque seu exercício era privilégio dos homens livres, sendo negado a uma grande parte da população. Com efeito, o governo ou a governabilidade e constitui e se exerce por homens comuns, na grande maioria das vezes, uma vez que gênios são muito raros. E esses homens comuns ou seja de inteligência pobre praticam atos, nem sempre ou na maioria das vezes, conforme seu esquema mental, já que ninguém dá aquilo que não dispõe. Mesmo assim, parece que o homem está querendo acertar, ou seja, parece estar bem intencionado. Agora, além disso, quando se está imbuído de má-fé, daí, realmente, as ações só podem apresentar efeitos deletérios, porque contra a má-fé não inventaram, ainda, vacina. Diante disso, é lícito concluir que um bom governo depende de um grupo de pessoas com boa formação e bem intencionados, que possam participar ativamente das ações de governabilidade, do nível micro ao macro. Fora disso, é só canseira e enfado: muito discurso.