Desiderata
Desiderata, do latim "coisas desejadas" é um poema que foi encontrado num livro da igreja de Saint Paul. em Baltimore, nos EUA. Muitos o atribuíram a um autor anônimo, e a data de sua publicação é igualmente considerada por muitos como o ano de 1692. Na realidade,
se trata de um poema do escritor
e advogado americano
Max Ehrmann (1872-1945), e que foi escrito em 1927. O motivo da confusão é que em 1956 o poema foi inserido numa compilação de textos devocionais pelo reverendo que na época presidia
a igreja de Saint Paul. 1692 é, em realidade, o ano de fundação desta igreja.
Isso tudo. entretanto, não retira a grandiosidade do poema:
Vá placidamente por entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio.
Tanto
quanto possível, sem sacrificar seus princípios, conviva
bem com todas as pessoas.
Diga a sua
verdade calma e claramente e ouça os outros, mesmo os estúpidos
e ignorantes, pois eles também têm sua história.
Evite as pessoas vulgares
e agressivas. elas são um tormento para o espírito.
Se você se comparar aos outros, pode tomar-se vaidoso
ou
amargo, porque sempre existirão pessoas superiores e inferiores
a você.
Usufrua suas conquistas,
assim como seus planos. Manter-se interessado em sua própria carreira, mesmo que humilde,
é um bem verdadeiro na sorte incerta dos tempos.
Tenha cautela em seus negócios, pois o mundo é cheio de artif1cios, mas não deixe isso te cegar à virtude que existe. Muitos lutam por ideais nobres
e por toda parte a vida é cheia de heroísmo.
Seja você mesmo. Sobretudo, não finja afeições.
Não seja cínico sobre o amor, porque, apesar de toda aridez e desencantamento, ele é tão perene quanto a relva.
Aceite
gentilmente o conselho dos anos, renunciando
com benevolência às coisas da juventude.
Alimente a força do espírito para ter proteção
em u m súbito infortúnio. Mas não
se torture com temores imaginários. Muitos medos nascem
da solidão e do cansaço.
Adote
uma disciplina sadia, mas não seja exigente
demais. Seja gentil consigo mesmo.
Você
é filho do Universo, assim como as árvores e as estrelas
Você
é filho
do Universo, assim como as árvores e as estrelas. Você
tem o direito de estar aqui.
E mesmo que não lhe pareça claro, o Uni verso. com certeza. está evoluindo como deveria.
Portanto, esteja em paz com Deus, não importa
como você O
conceba.
E, quaisquer que sejam as suas lutas e aspirações no ruidoso tumulto da vida. mantenha a paz em sua alma.
Apesar de todas as falsidades, maldades e
sonhos desfeitos. este ainda é u
m belo mundo. Alegre-se. Empenhe-se
em ser feliz!
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Ciência/Pesquisa: Carta aos Jovens
O russo Ivan Pavlov, Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina, certa feita escreveu
uma carta aos
jovens interessados pela pesquisa e pela ciência.
A meu ver, não só jovens no sentido
cronológico, mas também para todos aqueles que, independentemente da idade, estão a se iniciar no universo da pesquisa científica. Até porque, de resto, idade cronológica, por vezes, não atesta maturidade. Mas, o que realçou Pavlov aos jovens iniciantes em pesquisa/ciência? Falou de premissas básicas
que, mutatis mutandis, com as mediações contextuais, têm muito a dizer contemporaneamente. Uma expressão russa da carta, tanto em língua portuguesa
como inglesa, está traduzida como paixão. Possivelmente, pelo que
estou informado, não tem a ver com
a paixão no sentido tradicional da nossa "raiz linguística" (que pode resultar
até em sofrimento), mas diz respeito, sim, a 'entusiasmo comprometido com algo'.
Reproduzo, a seguir, a versão da carta em língua portuguesa e inglesa
- o cotejamento, entre as duas versões, pode revelar diferenças.
Carta aos Jovens
Por Ivan Pavlov
O que desejaria eu
aos jovens de minha Pátria, consagrados à ciência? Antes de tudo - constância. Nunca posso falar sem emoção sobre essa importante
condição para o trabalho científico. Constância, constância e constância!
Desde o início de seus trabalhos habituem-se a uma rigorosa
constância na acumulação do conhecimento.
Aprendam o ABC da Ciência antes de tentar galgar seu cume. Nunca acreditem no que se segue sem assimilar o que vem antes. Nunca tente dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições
e hipóteses audaciosas. Como se alegra nossa vista com o jogo de cores dessa bolha de sabão - no entanto, ela, inevitavelmente, arrebenta e nada fica, além da confusão.
Acostume-se à discrição e à paciência. Aprendam o trabalho
árduo da ciência. Estudem, comparem , acumulem fatos.
Ao contrário
das asas perfeitas
dos pássaros, a ciência nunca
conseguirá alçar voo, nem se sustentar no espaço. Fatos - esta é a atmosfera do cientista. Sem eles, nunca poderemos voar. Sem eles, nossa teoria não passa de um esforço
vazio.
Porém, estudem, experimentem, observem, esforcem-se para não abandonar
os fatos à superfície. Não se transformem em arquivistas de fatos. Tentem penetrar no ministério de sua origem e, com perseverança, procurem as leis que os governam.
Em segundo
lugar - sejam modestos. Nunca pensem que sabem tudo. E não se tenham em
alta conta; possam ter sempre
a coragem de dizer: sou ignorante. Não deixe que o orgulho os domine. Por causa dele, poderão obstinar-se quando for necessário concordar por causa dele, renunciarão ao conselho saudável
e ao auxílio amigo; por causa dele , perderão a medida da objetividade .
No grupo que me foi dado dirigir. todos formavam
uma mesma atmosfera. Estávamos todos atrelados a uma única tarefa e cada um agia segundo
sua capacidade e possibilidades. Dificilmente era possível distinguir você próprio do resto do grupo. Mas dessa comunidade tirávamos
proveito.
Em terceiro
lugar - a paixão. Lembre-se de que a ciência
exige que as pessoas se dediquem a ela durante a vida inteira. E se tivessem duas vidas, ainda assim não seria suficiente. A ciência demanda
dos indivíduos grande
tensão e forte paixão.
Sejam apaixonados por sua ciência e por suas pesquisas.
Nossa Pátria abre
um vasto horizonte para os cientistas e é preciso reconhecer - a ciência generosamente nos introduz na vida de nosso país. Prossigam com o máximo de generosidade!
O que dizer sobre a situação de nossos jovens cientistas? Eis que aqui tudo é claro. A vocês muito foi dado, mas de vocês muito se exige. E para os jovens, assim como para nós, a questão
de honra é ser digno de uma esperança
maior, aquela que é depositada na ciência de nossa pátria.
Tradução : Annibal Villela , in CASTRO, C. de M. A prática da pesquisa. São Paulo: McGraW Hill do Brasil, 1977