sábado, 21 de janeiro de 2017

John Locke e a Educação

     Em História da Educação Moderna, O Professor Frederick Ebay interpreta, dentre muitos outros educadores, John Locke. Em apertada síntese destacamos fragmentos que seguem: "Tão extraordinária foi esta época da História chamada "O Renascimento", que estudante algum pode compreender o aparecimento da civilização moderna, sem reviver suas dramáticas cenas e acontecimentos. [...] Em nenhuma época da história do mundo ocidental a teoria e a prática educacionais sofreram maior alteração que no século XVIII. [...] A última parte do século XVII e a primeira parte do século XVIII marcaram o início da transição para a era da sociedade e educação atuais. [...] Dos líderes do pensamento dessa era, John Locke foi, de todas as maneiras, o mais importante. [...] Na estruturação de seus pontos de vista sobre educação, Locke foi grandemente influenciado por Montaigne: em menor escala por escritores antigos, mas, acima de tudo, pelos costumes das famílias inglesas da classe superior. [...] Locke tinha uma arraigada desconfiança das palavras. Insistia em que o pensamento fosse feito sem palavras, tanto quanto possível. [...] Locke salientou que as palavras são símbolos arbitrariamente escolhidos. Não possuem quaisquer conexões naturais ou misteriosas com as coisas que designam. Não exprimem realidade. 'O que nós chamamos uma rosa, cheiraria tão bem como outro qualquer nome;' do contrário, seria "rosa" em todas as línguas. Como objetivo da educação, selecionou essas quatro coisas essenciais: virtude, sabedoria, educação e conhecimento, de preferência à eloquência, virtude e piedade, o objetivo dos humanistas. Mais ainda, essas qualidades, enunciou-as em ordem de importância. "Eu coloco a virtude", declarou, "como o primeiro e o mais necessário daqueles dons que pertencem a um homem ou um gentil-homem; como requisito indispensável para torná-lo valorizado e amado pelos demais, aceitável e si mesmo." Virtude, pelo que designava bom caráter, depende inteiramente de formação religiosa adequada. Compreende especialmente reverência a Deus, amor à verdade e boa vontade em relação aos outros. Sabedoria, no pensamento de Locke, é prudência, julgamento sólido e previsão nas questões da vida, tais como administração dos próprios bens e desempenho do serviço público para a prosperidade da comunidade. Boa educação, ou polidez, de acordo com a tradição inglesa, foi elevada por Locke a uma posição de maior importância na formação. Tem como sua própria fonte de origem adequada consideração por si e respeito pelos outros; sua regra é: "Não pensar mesquinhamente a respeito de nós mesmos, e não pensar mesquinhamente a respeito dos outros." Locke situou o conhecimento no fim porque, no seu entender, era de menor importância. "Deve ser obtido, mas, em segundo lugar, e subserviente apenas às qualidades maiores." Apesar de Locke reduzir ao mínimo a importância do conhecimento em comparação aos demais objetivos, não o fez com desrespeito pela inteligência humana ou pela vida racional. A razão é a mais alta faculdade do homem, mas é uma faculdade cujas funções são mais valiosas em questões práticas e éticas do que em terrenos puramente especulativos ou no armazenamento do saber. Não o erudito, mas o prático "gentil-homem cujo destino adequado é o serviço de seu país", deve ser o produto da educação que Locke propunha. Ele tinha pouco respeito pelo erudito como tal. Sobre este afirmou: "Eu penso que vós julgareis muito tolo um indivíduo que não valorizasse um homem virtuoso ou sábio infinitamente mais do que um grande erudito." Escreveu: "O grande trabalho de um governante é moldar a carruagem e formar a mente; implantar em seu aluno bons hábitos e os princípios da virtude e sabedoria, dar-lhe, aos poucos, uma visão da humanidade, e formá-lo no amor e imitação do que é excelente e digno de louvor; e, na busca disto, dar-lhe vigor, atividade e diligência." [...] A utilidade é o princípio orientador na seleção do currículo. Cada estudo e suas minúcias devem encontrar justificação na contribuição que dão à vida. No entanto o fator determinante não é a vida atual da criança, e sim, sua vida futura como homem. [...] Preocupar-se-á com "conhecimento moral e político e, deste modo, os estudos que pertencem mais imediatamente a seu destino são aqueles que tratam de virtudes e vícios, da sociedade civil e das artes de governo, e incluirão, também Direito e História. [...] Apesar de Locke ter adotado este princípio de utilidade, seria precipitado concluir que o autor encherá a memória da criança com conhecimento útil. A atitude certa do aluno com relação ao conhecimento é muito mais importante do que a posse de informações. A tarefa do tutor é enisinar-lhe não tanto tudo o que se pode saber, quanto desenvolver nele um amor e uma estima pelo conhecimento, e colocá-lo no caminho de conhecer-se a si próprio e aperfeiçoar-se quando tiver capacidade para isso.". 
     A relevância desses aspectos exploratórios vem do momento em que estamos atravessando em que a sociedade está em busca de uma reforma no sistema educacional. Neste momento, então, nada melhor do que rever a história daquilo que se pretende alterar. É na história relativa a esse domínio que a sociedade irá buscar elementos para uma tomada de decisão com maior probabilidade de acerto. Charles Fadel, Maya Bialik e Berninie Triling, coordenam uma pesquisa intitulada "Educação em Quatro Dimenções", voltada ao estudante do século XXI, ou seja, as competências que os estudantes precisam ter para atingir o sucesso. Esse trabalho tem divulgação, aqui no Brasil, pelo Instituto Península e Instituto Ayrton Senna, vale a pena conferir.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Análise dos Prazeres


     Não é possível nem aconselhável dizer tudo, ainda que se desejasse.
     1ª) "Amor é fogo que arde sem se ver,
            é ferida que dói e não se sente,
            é um contentamento descontente,
            é dor que desatina sem doer;
é um não querer mais que bem querer,
é solitário andar por entre a gente,
é nunca contentar-se de contente,
é cuidar que ganha em se perder;
            é querer estar preso por vontade,
            é servir a quem vence o vendedor,
            é ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?" (Luiz Vaz de Camões - Sonetos)

     2ª) "É preciso considerar que, entre os desejos, alguns são naturais, outros vazios, que, entre os desejos naturais, uns são necessários, outros, simplesmente naturais; dentre os que são necessários, uns são necessários à felicidade, outros à própria vida. É a justa compreensão dessas coisas que permite referir toda escolha e toda recusa à saúde do corpo e à ataraxia (imperturbabilidade) da alma, já que nisso está a finalidade da vida feliz. Pois agimos sempre para evitar a dor e o medo. Quando o conseguimos, toda a turbulência da alma se dissipa, já que o vivente não mais tem de perambular como se buscasse algo ausente nem procurar alguma coisa para satisfazer o bem do corpo e o bem da alma. Só precisamos do prazer quando sofremos por sua falta; mas quando não sofremos, não temos nenhuma necessidade de prazer. Por isso dizemos que o prazer é o começo e o fim da vida feliz. É ele que reconhecemos como o bem primitivo e natural e é a partir dele que que se determinam toda escolha e toda recusa e é a ele que retornamos sempre, medindo todos os bens pelo cânon do sentimento. Exatamente porque o prazer é o bem primitivo e natural, não escolhemos todo e qualquer prazer; podemos mesmo deixar de lado muitos prazeres quando é maior o incômodo que os segue; e consideramos que muitas dores são melhores do que os prazeres quando conseguimos após suportá-las, um prazer ainda maior. Todo prazer é portanto bom por seu vínculo conosco é congênito; no entanto, não convém buscar todo e qualquer prazer. Do mesmo modo, toda dor é um mal e no entanto nem todas são de natureza a nos fazer fugir. É por comparação e pelo exame dos benefícios e dos inconvenientes que devemos avaliar essas coisas. Há casos, com efeito, em que o bem pode ser para nós um mal e, reciprocamente, em mal pode se tornar um bem. Julgamos também que a independência é um grande bem, não porque devamos sempre nos contentar com pouca coisa, mas a fim de que, se nos faltar a abundância, possamos satisfazer-nos com pouco, verdadeiramente convencidos de que os que encontram na abundância os mais doces prazeres são os que dela menos precisam e que tudo que é natural é fácil de obter, mas não o supérfluo. Sabores simples nos trazem prazer igual ao de uma suntuosa refeição, uma vez saciada a dor que a carência engendra; o pão e a água produzem o mais alto prazer quando aquele que precisa deles os leva aos lábios. Acostumar-se com a simplicidade e frugalidade assegura plena saúde e deixa o homem disposto para os esforços úteis de sua vida e quando, uma vez ou outra, desfrutar do luxo, será da melhor maneira, sem temor dos dias difíceis." (Epicuro - Carta a Menequeu). 
     Segundo Epicuro, a sabedoria consiste em desenvolver e desencantar as forças naturais, para viver em serena harmonia com a ordem cósmica. Não há segredo no cosmos se soubermos nos servir das luzes da inteligência, para ir ao fundo daquilo que as sensações nos mostram. É bem esse o objetivo da ética epicúria: ensinar-nos a cuidar de nossa vida como de um belo jardim. Justamente por constituir o bem maior de que dispomos, a vida merece que desfrutemos das satisfações fundamentais: a paz de espírito, a amizade, o gosto dos prazeres verdadeiros, pontua João Quartim de Moraes.

sábado, 7 de janeiro de 2017

A Escravidão, a Dor e o Prazer

     Epiruco (341-270 a.C), escrevera: "Ninguém, quando jovem, deixe de filosofar nem, quando velho, se canse filosofando. Pois ninguém é jovem demais nem demasiado velho, para fazer algo em favor de sua saúde espiritual. Quem julgasse ser muito cedo ou minimamente tarde para dedicar-se à filosofia, seria semelhante àquele que afirma que a hora exata de sua felicidade ainda não chegou ou que já se escoou. Portanto, a filosofia cabe tanto ao jovem quando ao velho" (Carta a Meneceu). E que se deve buscar o prazer e fugir da dor. Ao erigir o prazer em bem supremo, ele não estava sustentando nem que o bem é aquilo que parece bom a cada qual, nem que a felicidade consiste em buscar todo e qualquer prazer. Mesmo porque a dor, o medo e o sofrimento estão sempre à espreita: a missão da ética é ensinar a evitá-los ou a suportá-los. Quanto a sentir prazer, todo mundo já nasce sabendo. O que podemos e devemos aprender é escolher os prazeres mais propícios a vida feliz, que nos torna 'como em deus entre os homens', escrevera. Santo Agostinho (354-430) escrevera que quando a vontade se submete à razão teremos o bem e quando a vontade fica acima da razão teremos o mal. Uma das finalidades básicas da educação é libertar a mente humana dos seus vários grilhões. Se a liberdade é relativamente esclarecida e responsável, quanto mais, melhor. O maior interesse do professor é a libertação e cultivo da variedade em todas as pessoas normais. Até mais ou menos recentemente, toda a estrutura da sociedade civilizada apoiava-se na instituição da escravidão humana. O professor liberta o estudante da escravidão cultural, da ignorância sobre o mundo material, da ignorância social, da falta de conhecimento e lhe dá um ritmo de crescimento que o torna capaz de absorver e aumentar seu conhecimento, de organizar e produzir significativamente. As pessoas são escravizadas de tantas maneiras diferentes. A escravidão comporta mais de um tipo. Um tipo sensível é a escravidão moral. Esse tipo propicia o preconceito, a ignorância, o egoísmo e a confusão. Mahatma Gandhi (1869-1948) escrevera algo que serve como exemplo de escravidão moral: "Por Que As Pessoas Gritam?
Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:
- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
- Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles.
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? – Questionou novamente o pensador.
- Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo.
E o mestre volta a perguntar:
- Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador. Então ele esclareceu:
- Vocês sabem porque se grita com uma pessoa quando se está aborrecida? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito.
Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente.
Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas?
Elas não gritam. Falam suavemente.
E por quê?
Porque seus corações estão muito perto.
A distância entre elas é pequena.
Às vezes estão tão próximos seus corações, que nem falam, somente sussurram.
E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta.
Seus corações se entendem.
É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Por fim, o pensador conclui, dizendo:
“Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.". Segundo Earl V. Pullias, "Quase tudo na vida moderna é confuso e apinhado. Parecemos literalmente hipnotizados pela necessidade de fazer mais, aprender mais, obter mais, até que o mais se transforma numa obsessão. Esse impulso para o mais penetra e influencia todas as fases da vida, incluindo a educação.". Daí a indagação, segundo ele: "Qual é o conhecimento digno de ser sabido? [...] Talvez estejamos já tão adiantados na estrada da aglomeração que nem sequer podemos parar e fazer estas perguntas, sem falar da descoberta de respostas inteligentes e objetivas.", sentencia ele. Se é verdade que alguma coisa, no homem, o atrai para os maiores riscos da vida, neste sentido, é lícito finalizar dizendo que o professor é um guia na jornada do aprendizado, com todos os desafios que isso possa representar e a mais sutil, difícil e importante de todas as tarefas do professor como guia talvez seja a de dar vida e significado à jornada do aprendizado, considerando que toda jornada tem um propósito ou destino, o qual depende também e muito do aluno.