domingo, 22 de maio de 2016

O Princípio da Responsabilidade em Hans Jonas

VITALINO CANAS (Introdução às decisões de provimento do Tribunal Constitucional, 2ª edição, Lisboa, 1994) adverte: “[...] a atitude mais correta não é a de, perante um precipitar da realidade que se pretende conhecer, procurar adaptar a fenômenos novos conceitos criados a pensar numa outra realidade. Novas exigências postulam novos institutos.”. Assim é que, em outro domínio, ainda assim, implicativo, a crítica de HANS JONAS (O Princípio da Responsabilidade – ensaio de uma ética para a civilização tecnológica – RJ, Contraponto, 2006), está voltada para a sobrevivência física e espiritual da humanidade, como tema central. A partir de um ponto de vista ontológico, ele retoma as questões sobre a relação entre Ser e dever, causa e finalidade, natureza e valor. Busca ultrapassar o subjetivismo dos valores para fundamentar no Ser o dever do homem moderno. Certas transformações em nossas capacidades, ele diz, acarretam uma mudança na natureza do agir humano. E, já que a ética tem a ver com o agir, a natureza modificada do agir humano também impõe uma modificação na ética. A natureza qualitativamente nova de muitas das nossas ações descortinou uma dimensão inteiramente nova, não prevista nas perspectivas e nos cânones da ética tradicional. A técnica moderna introduziu ações de uma tal ordem inédita de grandeza, com tais novos objetos e consequências que a moldura da ética antiga não consegue mais enquadrá-la. No pensamento tradicional, a presença do homem no mundo era um dado primário e indiscutível, de onde partia toda ideia de dever referente à condução humana. Agora, essa presença tornou-se, ela mesma, um objeto de dever, o dever de conservar o mundo e preservar as condições dessa presença. A descoberta da vulnerabilidade da natureza provocada pela intervenção técnica do homem fez que surgisse a ciência do meio ambiente, a ecologia. Essa situação modificou completamente a representação do ser humano para consigo mesmo, como fator causal no complexo sistema das coisas. Ao promover essa modificação na ação da natureza humana, algo inteiramente novo passa a fazer parte da responsabilidade humana, ou seja, toda biosfera do Planeta. Impõe-se, assim, pensar em uma nova teoria ética para nortear a ação humana nessa nova realidade. Faz-se necessário refletir que, pela educação ambiental, amparada por novos conceitos éticos, será possível transformar o comportamento humano, que deve se esvair dos valores enraizados da ética tradicional e colocar a responsabilidade para com as gerações futuras e com a natureza como fator crucial na manutenção da vida no Planeta. Por fim, faz-se mister reafirmar a importante contribuição deixada pelo filósofo Jonas sobre a ética da responsabilidade, pois somente por meio desses novos conceitos éticos será possível pensar uma nova educação ambiental, que norteie a ação humana de forma que o homem passe a agir com calma, prudência e responsabilidade para, dessa maneira, ser possível trilhar os caminhos de um novo modelo político, econômico e educacional que restabeleça o equilíbrio tanto ecológico quanto social, nas palavras de FABIO ANTÔNIO GABRIEL e outros (4) (Ensaio entre Filosofia & Educação, RJ, Multifoco, 2016, 1ª edição). Já que educar vai além do processo ensino-aprendizagem, por isso, é fundamental refletir sobre educação para que o processo educacional seja realmente capaz de conduzir o ser humano a realizar ações conscientes e autônomas na sociedade, capaz de conscientizar e de libertar o ser humano das correntes da reprodução cognitiva que restringem ou anulam a liberdade do atuar, capaz de fazê-lo construir sua autonomia e, com ela, agir lúcida e eticamente, a fim de modificar o seu meio social e o próprio contexto histórico, conquistando a dignidade individual e social e de toda a humanidade. Eis que a educação não pode ser mero meio de reprodução de pensamentos. Educar é motivar à reflexão, é motivar à práxis de busca, à curiosidade, à criatividade, ao espírito investigador ou, poeticamente, despertar a insaciedade, a fome         de
criatividade, ao espírito investigador ou, poeticamente, despertar a insaciedade, a fome de conhecer.

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