VITALINO
CANAS (Introdução às decisões de provimento do Tribunal Constitucional, 2ª
edição, Lisboa, 1994) adverte: “[...] a atitude mais correta não é a de,
perante um precipitar da realidade que se pretende conhecer, procurar adaptar a
fenômenos novos conceitos criados a pensar numa outra realidade. Novas
exigências postulam novos institutos.”. Assim é que, em outro domínio, ainda
assim, implicativo, a crítica de HANS JONAS (O Princípio da Responsabilidade – ensaio
de uma ética para a civilização tecnológica – RJ, Contraponto, 2006), está
voltada para a sobrevivência física e espiritual da humanidade, como tema
central. A partir de um ponto de vista ontológico, ele retoma as questões sobre
a relação entre Ser e dever, causa e finalidade, natureza e valor. Busca
ultrapassar o subjetivismo dos valores para fundamentar no Ser o dever do homem
moderno. Certas transformações em nossas capacidades, ele diz, acarretam uma
mudança na natureza do agir humano. E, já que a ética tem a ver com o agir, a
natureza modificada do agir humano também impõe uma modificação na ética. A
natureza qualitativamente nova de muitas das nossas ações descortinou uma
dimensão inteiramente nova, não prevista nas perspectivas e nos cânones da
ética tradicional. A técnica moderna introduziu ações de uma tal ordem inédita
de grandeza, com tais novos objetos e consequências que a moldura da ética
antiga não consegue mais enquadrá-la. No pensamento tradicional, a presença do
homem no mundo era um dado primário e indiscutível, de onde partia toda ideia
de dever referente à condução humana. Agora, essa presença tornou-se, ela
mesma, um objeto de dever, o dever de conservar o mundo e preservar as
condições dessa presença. A descoberta da vulnerabilidade da natureza provocada
pela intervenção técnica do homem fez que surgisse a ciência do meio ambiente,
a ecologia. Essa situação modificou completamente a representação do ser humano
para consigo mesmo, como fator causal no complexo sistema das coisas. Ao
promover essa modificação na ação da natureza humana, algo inteiramente novo
passa a fazer parte da responsabilidade humana, ou seja, toda biosfera do
Planeta. Impõe-se, assim, pensar em uma nova teoria ética para nortear a ação
humana nessa nova realidade. Faz-se necessário refletir que, pela educação
ambiental, amparada por novos conceitos éticos, será possível transformar o
comportamento humano, que deve se esvair dos valores enraizados da ética
tradicional e colocar a responsabilidade para com as gerações futuras e com a
natureza como fator crucial na manutenção da vida no Planeta. Por fim, faz-se
mister reafirmar a importante contribuição deixada pelo filósofo Jonas sobre a
ética da responsabilidade, pois somente por meio desses novos conceitos éticos será
possível pensar uma nova educação ambiental, que norteie a ação humana de forma
que o homem passe a agir com calma, prudência e responsabilidade para, dessa
maneira, ser possível trilhar os caminhos de um novo modelo político, econômico
e educacional que restabeleça o equilíbrio tanto ecológico quanto social, nas
palavras de FABIO ANTÔNIO GABRIEL e outros (4) (Ensaio entre Filosofia &
Educação, RJ, Multifoco, 2016, 1ª edição). Já que educar vai além do processo
ensino-aprendizagem, por isso, é fundamental refletir sobre educação para que o
processo educacional seja realmente capaz de conduzir o ser humano a realizar
ações conscientes e autônomas na sociedade, capaz de conscientizar e de
libertar o ser humano das correntes da reprodução cognitiva que restringem ou
anulam a liberdade do atuar, capaz de fazê-lo construir sua autonomia e, com
ela, agir lúcida e eticamente, a fim de modificar o seu meio social e o próprio
contexto histórico, conquistando a dignidade individual e social e de toda a
humanidade. Eis que a educação não pode ser mero meio de reprodução de
pensamentos. Educar é motivar à reflexão, é motivar à práxis de busca, à
curiosidade, à criatividade, ao espírito investigador ou, poeticamente,
despertar a insaciedade, a fome de
criatividade, ao espírito
investigador ou, poeticamente, despertar a insaciedade, a fome de conhecer.
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