sexta-feira, 4 de abril de 2014

Maneiras do Conhecimento e a Interpretação

     "Um homem propõe-se a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos, povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, montanhas, baías, navios, ilhas, peixes, moradas, instrumentos, astros, cavalos e pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto." (Borges, "Epílogo", em O Fazedor). 

    De modo geral, tem-se que o conhecimento se amplia de duas maneiras: por extensão e por compreensão. O crescimento por por extensão consiste em transportar uma explicação relativamente completa de um dado aspecto (do conhecimento ou qualquer coisa) para seus vizinhos. No crescimento por compreensão, uma explicação parcial de toda uma região é progressivamente melhorada. Com efeito, Marcelo Dascal (Interpretação e compreensão. São Leopoldo-RS, Editora Unisinos, 2006, p. 5) expressara: "Desde que foi separada de seus primos na árvore evolucionária, a nossa espécie busca pelo significado. A criança se maravilha ao reconhecer - por trás do mero estímulo - um rosto familiar; o adolescente padece em sua busca de um padrão capaz de definir a sua auto-identidade; o adulto está sempre buscando o sentido da vida; e, na velhice, tenta-se compreender a morte desesperadamente. Ao longo desses esforços, temos a sorte (se nos comparamos a outros animais) de poder compartilhar a experiência articulada dos nossos semelhantes por meio de formas de comunicação sofisticadas. No entanto, infelizmente, logo aprendemos que os meios de comunicação, também podem ocultar o significado e impedir a compreensão. Isso acontece porque jamais podemos ter certeza de que um sorriso indica satisfação, que um "sim" representa consentimento ou que uma afirmação revela a opinião daquele que a proferiu. Para averiguar qual o significado de tais exemplos de comportamento comunicativo, temos de nos submeter a um elaborado processo de interpretação, considerando não apenas essa fração de comportamento, mas praticamente tudo o que sabemos sobre uma determinada pessoa, sobre a situação exata na qual o comportamento tem lugar, sobre as normas sociais que regulam determinadas formas de comportamento - em suma, praticamente sobre o "mundo" inteiro que supostamente compartilhamos com o nosso interlocutor. Perante a complexidade desse processo interpretativo, é quase um milagre que possamos nos compreender uns aos outros mais do que sermos incompreendidos. A tarefa de uma teoria da compreensão e interpretação é tentar esclarecer os princípios por meio dos quais alcançamos esse milagre diário". Portanto, é possível que as duas formas de crescimento manifestem-se em qualquer avanço teórico e se apresentem tanto nas teorias concatenadas como nas hierárquicas. Sendo que, uma nova teoria representa aumento de conhecimento, mas transforma, também, o que era sabido, contribuindo para esclarecer, dar significados novos e confirmar o já conhecido.

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