domingo, 24 de abril de 2016

Ivan Petrovich Pavlov: Carta aos Jovens

     Sob esse título, Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936, Fisiologista russo, nascido em Riazan e falecido em Leningrado. Estudou medicina na Universidade de São Petersburgo, graduando-se em 1883. Trabalhou na Alemanha com dois grandes fisiologistas, Karl F.W. Ludwig e Rudolf Heidenhain, e, de volta, ocupou a cátedra de Farmacologia, na Academia Médica Militar, em 1890, tornando-se, em seguida, professor de Fisiologia, em 1895. Alcançou renome universal por suas pesquisas no terreno da circulação sanguínea, da ação das glândulas digestivas e da formação de reflexos condicionados. Em 1904 foi laureado com o Prêmio Nobel por seus trabalhos sobre a fisiologia da digestão, embora seu nome tivesse sido imortalizado, por seus experimentos sistemáticos de condicionamento de cães e outros animais. Estes estudos, principalmente em 1902, inspiraram e orientaram a psicologia experimental do conhecimento. A essência da teoria pavloviana dos processos mentais complexos tem sua ênfase na experimentação objetiva, e não mais na subjetividade, como na psicologia tradicional, baseada no dualismo corpo-alma supostamente inerente a ela. De 1928 até a data da morte, concentrou os estudos na possibilidade em aplicar os princípios do condicionamento à psiquiatria clínica. in Enciclopédia Barsa), escreveu este denso discurso dedicado aos jovens cientistas: "O que desejaria eu aos jovens de minha Pátria, consagrados à ciência? Antes de tudo - constância. Nunca posso falar sem emoção sobre essa importante condição para o trabalho científico. Constância, constância e constância! Desde o início de seus trabalhos habituem-se a uma rigorosa constância na acumulação do conhecimento. Aprendam o ABC da Ciência antes de tentar galgar seu cume. Nunca acreditem no que se segue sem assimilar o que vem antes. Nunca tentem dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições e hipóteses audaciosas. Como se alegra nossa vista com o jogo de cores dessa bolha de sabão - no entanto, ela, inevitavelmente, arrebenta e nada fica além da confusão. Acostumem-se à discrição e à paciência. Aprendam o trabalho árduo da ciência. Estudem, comparem, acumulem fatos. Ao contrário das asas perfeitas dos pássaros, a Ciência nunca conseguirá alçar vôo, nem sustentar-se no espaço. Fatos - essa é a atmosfera do cientista. Sem eles nunca poderemos voar. Sem eles nossa teoria não passa de um esforço vazio. Porém, estudem, experimentem, observem, esforcem-se para não abandonar os fatos à superfície. Não se transformem em arquivistas de fatos. Tentem penetrar no mistério de sua origem e, com perseverança, procurem as leis que os governam. Em segundo lugar - sejam modestos. Nunca pensem que sabem tudo. E não se tenham em alta conta; possam ter sempre a coragem de dizer: sou ignorante. Não deixem que o orgulho os domine. Por causa dele poderão obstinar-se, quando for necessário concordar; por causa dele renunciarão ao conselho saudável e ao auxílio amigo; por causa dele perderão a medida da objetividade. No grupo que me foi dado dirigir, todos formavam uma mesma atmosfera. Estávamos todos atrelados a uma única tarefa e cada um agia segundo sua capacidade e possibilidades. Dificilmente era possível distinguir você próprio do resto do grupo. Mas dessa nossa comunidade tirávamos proveito. Em terceiro lugar - a paixão. Lembrem-se de que a Ciência exige que as pessoas se dediquem a ela durante a vida inteira. E se tivessem duas vidas, ainda assim não seria suficiente. A Ciência demanda dos indivíduos grande tensão e forte paixão. Sejam apaixonados por sua ciência e por suas pesquisas. Nossa Pátria abre um vasto horizonte para os cientistas e é preciso reconhecer - a ciência generosamente nos introduz na vida de nosso país. Prossigam com o máximo de generosidade! O que dizer sobre a situação de nossos jovens cientistas? Eis que aqui tudo é claro. A vocês muito foi dado, mas de vocês muito se exige. E para os jovens, assim como para nós, a questão de honra é ser digno de uma esperança maior, aquela que é depositada na ciência de nossa Pátria.". Somado a esse, temos as palavras do Ministro Luis Roberto Barroso, proferidas por ocasião em fora paraninfo (Migalhas, 25/3/2009): "[...] Creio no bem, mesmo quando não posso vê-lo. Mesmo quando não consigo entender exatamente porque as coisas acontecem. Creio no bem como uma energia permanente e crescente, desde o início dos tempos. A força propulsora do processo civilizatório, que nos levou de uma época de aspereza, de sacrifícios humanos e de tiranias diversas à era dos direitos humanos, da democracia, da busca da dignidade da pessoa humana. Minha crença sofre, mas não se abala, com o fato de que estas não são realidades concretas em todas as partes do mundo nem para toda a gente. As idéias demoram um tempo razoável desde quando conquistam corações e mentes até se incorporarem efetivamente à vida das pessoas. Mas o rumo certo é mais importante do que a velocidade. O Bem é feito da boa-fé, essa conquista do espírito, que consiste em não querer passar os outros para trás. E de bons sentimentos, que é a atitude positiva e unilateral de querer bem às pessoas em geral. Um dos segredos da vida é jamais dar reciprocidade a mau-sentimento. Ah, sim: quando falo do Bem, não me refiro a um bem ascético, sisudo, circunspecto, que não perde o vinco nem desmancha o cabelo. Falo de um Bem que não sacrifica a alegria de viver, que tem olhos de ver, que se amassa e se descabela. Que sabe escolher bem. E que acredita, com Fernando Sabino, que no final, tudo acaba bem. Se ainda não está bem, é porque não chegou ao fim. Eis aí minha primeira crença essencial: querer bem, fazer bem, viver bem. E dormir bem. [...]".
     De minha parte direi ao estudante: pratica e cultiva esses ensinamentos transmitidos, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma boa, longa, próspera e feliz.

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