sábado, 6 de fevereiro de 2016

A Arte de Escrever

     Adverte e recomenda Arthur Schpenhauer (1788-1860) - sob o título: A arte de escrever - nesta antologia de ensaios de Pererga e Paralipomena, que o leitor vai encontrar textos que trazem as mais ferinas, entusiasmadas e cômicas reflexões acerca do ofício do próprio Shopenhauer, isto é, o ato de pensar, a escrita, a leitura, a avaliação de obras de outras pessoas, o mundo erudito como um todo. São eles: "Sobre a erudição e os eruditos", "Pensar por si mesmo", "Sobre a escrita e o estilo", "Sobre a leitura e os livros" e "Sobre a linguagem e as palavras". Embora redigidos na primeira metade do século XIX, estes ensaios, ao tratar sobre o mundo das letras, os vícios do pensamento humano, as armadilhas da escrita e da crítica, continuam válidos - hoje talvez mais do que nunca. E, marca personalíssima do autor, são modernos, pulsantes de vida, de inteligência e humor: "[...] deve-se evitar toda prolixidade e todo entrelaçamento de observações que não valem o esforço da leitura. É preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor, de modo a receber dele o crédito de considerar o que foi escrito digno de uma leitura atenta e capaz de recompensar o esforço empregado nela.". Na mesma linha de pensamento, Dad Squarisi e Arlete Salvador - Escrever Melhor - dizem: "Escrever exige 10% de inspiração e 90% de transpiração. Sim, senhor, escrever é trabalho árduo. Textos são cortados, aumentados, transformados, virados pelo avesso, amassados, condensados. O texto só brilha depois de muito apanhar. Estudantes, jornalistas, advogados, executivos e outros profissionais que usam a escrita no dia-a-dia lêem, relêem e reescrevem dissertações, reportagens, teses, petições, documentos. A mensagem precisa chegar às mãos dos chefes e dos clientes com correção, clareza e objetividade. Este livro se destina a esses escritores-editores. Eles aprenderão a passar a limpo, que é a segunda etapa do processo de criação. é o momento de cortar, ajustar, mudar, adaptar, transformar, socar, chacoalhar. Mas como saber quando e onde mexer? Este livro serve de guia.". De fato: ESCRITOR. Do latim "scriptor", do verbo "scribere" = escrever. É aquele que domina a arte da comunicação mediante símbolos escritos. Numa cultura que, rapidamente, se urbaniza e que, cada vez mais, formaliza o relacionamento entre os homens, torna-se sempre mais indispensável que todos saibam se exprimir mediante a escrita. O escritor, porém, é aquele cuja palavra escrita se reveste de um brilho e de um encanto que o distingue na atenção dos leitores. Escrever bem é uma arte que não supõe apenas falar bem. Muitos, cuja palavra falada possui uma excepcional eficácia de persuasão, são incapazes de se comunicar com os outros pela escrita, e vice-versa. Quem escreve não se dirige a um público presente; deve assim ter o cuidado de prevenir qualquer dúvida ou objeção, que na comunicação oral seria levantada e esclarecida. O escritor deve saber colocar-se na perspectiva do leitor. Mais especificamente, o termo escritor prende-se a um certo culto da palavra escrita, no campo da literatura, onde as próprias palavras têm um valor em si, e não apenas um valor meramente algébrico, como nas obras científicas. O escritor não se improvisa. Supõe qualidades inatas, como uma visão penetrante e original de situações que lhe permite surpreender relações e compor associações mentais que escapam aos que não têm este dom. Supõe que essas qualidades sejam cultivadas, trabalhadas, por um profundo conhecimento da língua que lhe forneça o seu material de expressão e, especialmente, por uma disciplina mental de explicitação do que é meramente sentido, vivido ou intuido. O escritor tem uma função importante e uma grave responsabilidade social porque, dominando a palavra escrita, pode influir decisivamente na formação da mentalidade de um povo.Para os bacharéis em Direito, temos, dentre outros: "O Processo" (F. Kafka - teatro do absurdo) e "Em Segredo de Justiça" (Gabriel Lacerda - um brasileiro) que podem servir de inspiração àqueles que queiram dedicar-se a romances jurídicos, uma das muitas (quase ou mais de 50 catalogadas) alternativas de exercitar o Direito. "Em Segredo de Justiça" é um romance e é um processo judicial completo. E a este romance-processo não faltam nem um final imprevisível, chaves de um bom romance e de um bom processo. À medida que o processo se desenvolve o leitor vai descobrindo, ao mesmo tempo em que o juiz, o que realmente se passa por trás das petições brilhantes em que advogados tarimbados se esgrimem. E o leitor, como o juiz, podem ir separando a aparência da realidade e formando a consciência do que é a verdade em meio à emoção de cada parte envolvida. O personagem do juiz, que é, enfim, em torno de quem se passa o processo, traz, pela primeira vez na ficção brasileira, uma complexidade psicológica e um conjunto de indagações éticas que colocam em questão a própria essência da atividade judicial. Ao mesmo tempo, "Em Segredo de Justiça", sem pretendê-lo, é uma grande leitura para os interessados em direito processual civil, pois a estrutura do processo que transcorre nestas páginas não é fantasiada: pelo contrário, obedece rigorosamente às formas, prazos e ritos prescritos pelo Código de Processo Civil brasileiro, mencionados de forma acessível para o leigo não faltando sequer um glossário, ao final do livro, para auxílio de estudantes e curiosos. Finalmente, "Em Segredo de Justiça" aborda pela primeira vez a questão, até então pouco abordada pela justiça brasileira, do assédio sexual e moral de consequências jurídicas. Por tantos méritos, este livro é um marco na literatura brasileira, acentua o comentador.

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