sábado, 13 de fevereiro de 2016

Referenciais

     Alaôr Caffé Alves (Dialética e Direito, Linguagem, sentido e realidade, Barueri, SP: Manole, 2010, p.XI) dá a descrição de que: "O homem não nasce pronto e acabado; ele se faz historicamente, é produto da história. Só ele tem história porque é o único animal que vai além das necessidades naturais, criando culturalmente novas necessidades e precisando satisfazê-las mediante trabalho, com a transformação da natureza. As máquinas e as usinas, seus utensílios, bens e instituições, pelos quais ele existe e mantém sua vida produtiva, são projeções objetivadas pelo seu espírito e ação social. Nesse processo, ele ganha consciência e autoconsciência por meio de sua práxis diuturna. Por meio dela, o homem transforma historicamente o mundo natural e social e, ao mesmo tempo, constrói a si mesmo e se objetiva no seio da cultura ao realizar o mundo de significados nas coisas e em seus produtos sociais e espirituais. Assim, ele não existe pronto desde o começo, pois o ser humano vai se realizando como possibilidade atualizada dentro de cada momento, de cada fase. Em cada fase, ele é sempre original. Ele nunca é o mesmo; é sempre um novo homem. Fabricando progressivamente seu mundo mediante ação consciente, o ser humano propõe-se fins e valores pelos quais se orienta de modo racional e se torna um ser genérico. Ele não é só espécie animal de cada situação ou de cada época, como o urso polar, o camelo do deserto, a baleia dos mares, os elefantes da África, o tigre-de-dentes-de-sabre ou o mamute. É também gênero humano em contínuo processo de adaptação a inúmeras e diferentes circunstâncias do planeta, a todos os climas, aos mais adversos ambientes, até mesmo ao espaço sideral longe da Terra mãe. [...]".
     André Comte-Sponville (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, São Paulo: Martins Fontes, 1995), explica que: "Das virtudes quase não se fala mais. Isso não significa que não precisemos mais delas, nem nos autoriza a renunciar a elas. É melhor ensinar as virtudes, dizia Spinoza, do que condenar os vícios. É melhor a alegria do que a tristeza, melhor a admiração do que o desprezo, melhor o exemplo do que a vergonha. Não se trata de dar lições de moral, mas de ajudar cada um a se tornar seu próprio mestre, como convém, e seu único juiz. Com que objetivo? Para ser mais humano, mais forte, mais doce. Virtude é poder, é excelência, é exigência. As virtudes são nossos valores morais, mas encarnados, tanto quanto pudermos, mas vividos, mas em ato. Sempre singulares, como cada um de nós, sempre plurais, com as fraquezas que elas combatem ou corrigem. Não há o bem em si: o bem não existe, está por ser feito, é o que chamamos virtudes. [...]".
     Nesse ritmo, já foi dito que se educa mais e melhor pelas costas; não se educa melhor pelos ouvidos do que pelos olhos, ou seja: é o exemplo observado que acaba por proporcionar resultados melhores. O homem nasce num mundo já orientado. Daí é que ele vai transformando o mundo ao mesmo tempo em que se transforma com ele, donde os referenciais tornam-se importantes. Os mais comuns são os pais, depois os professores, os líderes e aqueles que apresentam uma vida produtiva. Para Alaôr Caffé Alves, "O possível é atualizado pelo possível anterior e não pronto desde o início dos tempos. O possível é mediatizado por outros possíveis já realizados, num espaço em que as possibilidades de terceiro grau não podem ser atualizadas diretamente a partir das de primeiro grau, senão passando pelas de segundo grau, e assim por diante nos limites do universo que conhecemos. Tudo se inova, tudo muda, tudo é transformação." Há, portanto, uma herança cultural a ser recepcionada queira ou não. Além dos referenciais humanos que poderão dar um norte seguro, há o referencial dos valores. É nesse sentido que os valores são fundamentais. Fácil notar que aqueles que não cultivam valores e/ou não possuem referenciais sólidos e saudáveis, quase sempre, perdem-se durante a caminhada: terminam a existência sem realizações úteis.

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