sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O MEDO À LIBERDADE

O MEDO À LIBERDADE (Erich Fromm - Escrito em 1941 – 2ª Guerra).

0l. “A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.” (Dom Hélder Câmara); 02. “Se eu não for por mim mesmo, quem será por mim? Se eu for apenas por mim, que serei eu? Se não agora – quando?” (Ditado Talmúdico – Mishnah, Abot); 03. “Não te criamos celestial nem terrestre, nem mortal nem imortal, mas de modo que pudesses ser livre de acordo com tua própria vontade e para tua própria honra, para seres teu próprio criador e construtor. A ti, somente, demos crescimento e desenvolvimento, dependentes de tua própria livre vontade. Trazes em ti os germes de uma universal.” 03. “Nada é, pois, imutável, a não ser os direitos inerentes e inalienáveis do homem.” (Thomas Jafferson).

     Nesse livro, fixa o autor: “A História moderna da Europa e da América gira em torno do esforço para livrar o homem das peias políticas, econômicas e espirituais que o têm mantido acorrentado. As batalhas pela liberdade foram sustentadas pelos oprimidos, pelos que queriam novas liberdades, contra os que tinham privilégios a defender. Enquanto uma classe lutava por se libertar da dominação, ela própria acreditava estar lutando pela liberdade humana e, assim era capaz de apelar para um ideal – o anseio de liberdade que existe arraigado em todos os oprimidos. Na longa e praticamente contínua batalha pela liberdade, contudo, as classes que lutavam contra a opressão em determinada fase, uma vez obtida a vitória, enfileiravam-se ao lado dos inimigos da liberdade para defender novos privilégios. [...]].

     Desde os tempos de estudante das Universidades de Heidelberg e Munique, Erich Fromm mantém-se fiel à grande tradição humanística da filosofia clássica alemã, a cujo patrimônio acrescentou a dimensão psicanalítica. As preocupações kantianas sobre a melhor forma de convivência social – do KANT que dizia que nada há de mais belo além do céu estrelado sobre nós e a lei moral dentre de nós – são as preocupações de FROMM, em cuja obra o traço ético é relevante – tão relevante que sendo obra de um psicanalista, ela é, simultaneamente, obra de um crítico social e de um expoente da antropologia filosófica.

     Testemunho do caos social e do totalitarismo, ERICH FROMM orientou as suas atividades científicas para o estudo dos fatores que promovem o aviltamento da condição humana: o levantamento das causas psicológicas que permitem o advento de sociedades adversas ao Homem. Mas não procede, nessa análise – e este é um dos seus grandes méritos – à supervalorização dos dados psicológicos. Mostra que, se os processos mentais realizam-se no indivíduo não serão, porém, compreendidos senão a partir da investigação da cultura – da realidade social que os deflagra. Com admirável clareza, ERICH FROMM promove a dissecação de todas as forças sociais e psicossociais que permitem a eclosão do totalitarismo. Procede ao mesmo tempo à análise das estruturas psicológicas do autoritarismo, cujo pressuposto é o de que o homem, não sendo intrinsecamente bom,  precisa de quem o tutele: de um Führer. Sob essa tutela, o indivíduo passa a sentir-se livre em sentido negativo. A liberdade adquire, então, o significado de destruição da personalidade. É a esse complexo de sentimentos e atitutes que FROMM designa como O Medo à Liberdade – a mais grave das enfermidades de que padece o mundo contemporâneo.

     Na sua radiografia de uma situação que é de conforto entre o que o homem pode ser, segundo a visão humanística, e as forças que o induzem ao cultivo dos instintos masoquistas, ERICH FROMM não se restringe ao diagnóstico do nosso tempo. Mostra como na reconquista do sentido humanístico da vida está o caminho que nos afasta do medo à liberdade. Este livro é um ato de fé na grandeza inata do homem.
(Aula de Ética – Faculdade Estácio de Curitiba – 06/11/2015 – Professor Rubens de Almeida – publicada em www.comoaprenderodireito.blogspot.com.br).
    

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