sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Da Política, do Poder e da Soberania

     Questionar sobre Política exige respostas simples e conclusivas. Em dois pensadores contemporâneos a questão está posta, resumida, assim: l) Hannah Arendt (O que é Política, Rio de Janeiro, Bertrand, 2004, p. 9), cujo pensamento político é original, independente e dificilmente pode ser classificado nos esquemas tradicionais da teoria política: "A compreensão da política está vinculada com as ideias de liberdade e da espontaneidade humana, para a qual deve haver um espaço para o desenvolvimento, quer dizer, um espaço para a política, está acima da compreensão usual e mais burocrática da coisa política, que realça apenas a organização e a garantia da vida dos homens." [...] "O homem pode agir, tomar iniciativas, impor um novo começo. O milagre da liberdade está contido nesse poder começar que, por seu lado, está contido no fato de que cada homem é em si um novo começo, já que continuará existindo depois dele." [...] "A política surge não no homem e sim entre os homens a liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos necessários para o surgimento de um espaço entre homens, onde só então se torna possível a política. O sentido da política é a liberdade."; 2) Michel Foucault (História da Sexualidade, v. I, São Paulo, Martins Fontes, 2001, p; 103), neste a teoria política é concebida via poder. Ele a concebe: "[...] o poder como uma multiplicidade de correlações de força imanente ao domínio onde se exercem e construtivas de sua organização; o jogo que, através de lutas e afrontamentos incessantes as transforma, reforça, inverte; os apoios que tais correlações de forças encontram umas nas outras, formando cadeias ou sistemas ou ao contrário, as defasagens e contradições que as isolam entre si; enfim, as estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas hegemonias sociais.". [...] O poder está em toda parte; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares (...) o poder não é uma instituição e nem uma  estrutura, não é certa potência e sim o nome dado a uma situação estratégica complexa numa sociedade determinada. A sociedade civil é uma matriz permanente de poder político não é humanitária e sim comunitária.". Fosse humanitária haveria uma preocupação de todos com todos; sendo comunitária, há uma preocupação restrita apenas, quando muito, com os próprios da comunidade. Daqui poder-se-á entender o que está acontecendo na Europa atualmente: cada país está preocupado com os seus. É que o poder transforma os indivíduos em sujeitos, ou seja, na vida cotidiana, os indivíduos são classificados em categorias, os designa às suas individualidades, lhes impõem uma lei de verdade que eles devem aceitar e que os outros devem reconhecer neles. Então, "A palavra soberania e o conceito que ela exprime - afirma um atento observador da realidade contemporânea, Nicola Matteucci - não foram inventados no século XVI. Na antiguidade e na Idade Média, para indicar a mais alta sede do poder, utilizava-se uma série de expressões. [...] A existência de uma sociedade política organizada sobre um princípio de autoridade suprema de governo é um facto testemunhado pela história de todas as civilizações e pela reflexão política de todos os tempos.".O pai da falsa concepção de soberania é Hobbes, seguido por Rousseau e por aqueles que aplicaram as suas teorias políticas a partir da Revolução Francesa. Embora, atualmente, no contexto de uma crise política, social e moral de proporções talvez sem precedentes na história, as conclusões do pensamento tradicional e cristão são postas em causa. Fala-se abertamente da extinção da soberania e do Estado. Dentre eles estão: Gérard Mainet e Valclav Havel. A era da soberania, diz-se, chega ao fim, dizem. Da meditação concentrada sobre a Política, sobre o Poder e sobre a Soberania é possível, quem sabe, compreender um pouco mais a respeito do se passa em vários países, inclusive, o nosso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário