terça-feira, 11 de março de 2014

A Idade das Pessoas

     Com frequência, deparamos com  observações sobre alguém no sentido de que tal pessoa não aparenta a idade que tem. Porque isso acontece? Acontece porque a idade, em certas ocasiões, é medida pela escala de intervalo. Daí essa discrepância. Com efeito, uma temperatura de 20º C não é duas vezes mais alta do que uma temperatura de 10º C; nesse caso, a variação correta gira em torno de 7 para 5. Alguém aos 80 anos de idade pode estar em melhores condições físicas e ou intelectuais do que outro com idades bem menores. Tanto é que há falecimentos de pessoas jovens por falência múltipla dos órgãos. Outros fatores de ordem estrutural entram nessa composição.

     Em ciência, a medida não é um fim em si mesmo. Sua validade científica só pode ser apreciada numa perspectiva instrumentalista, dentro da qual indaguemos dos fins que a medida pretende servir, do papel que lhe cabe desempenhar na situação científica, das funções que lhe tocam na investigação. O não reconhecimento dessa instrumentalidade da medida é responsável por uma espécie de mística da quantidade, que invoca os números como se eles fossem repositórios de poderes ocultos. E o efeito disso, entretanto, é muito semelhante e lembra o fato de que por grande ênfase nas definições pode fazer pensar que se deposita fé no poder das palavras. A mística da quantidade equivale a conceder atenção exagerada à significação da medida, sem consideração pelo que está sendo medido ou que, posteriormente, possa ser feito com a medida. O número é tratado como se tivesse valor científico. Na história da ciência, preocupações quantitativas e qualitativas têm caminhado passo a passo. O drama exige que adversários se defrontem, mas, na vida, não podemos estar seguros, por muito tempo, quanto a quem seja o herói e quem seja o vilão. Além do que, ainda, temos de considerar que o próprio conhecimento científico nunca é inteiramente exato. Com efeito, uma medida pode medir aquilo que se propôs, mas fazê-lo mal. O resultado pode deixar de ser útil quanto seria se os números atribuídos fossem algo diferentes ou se, pelo menos, o procedimento, sempre que levado a efeito, conduzisse a atribuir números próximos uns dos outros. A validez, numa palavra, requer que a medida seja relativamente livre de erro. Pois, o erro de uma medida é, em si, medida de nosso insucesso no sentido de alcançar o que pretendíamos.

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