domingo, 16 de outubro de 2016

Como o Conhecimento será possível?

     Felizmente, desde sempre há constante preocupação com o conhecimento: ele fascina. E cada educador buscou dar a própria contribuição. Dentre tantos, Protágoras, por exemplo  (em grego antigo: Πρωταγόρας; Abdera, c. 490 a.C.Sicília, c. 415 a.C.[1]) foi um sofista da Grécia Antiga, , como celebridade por cunhar a frase:"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.", sustentara, segundo Rodolfo Mondolfo, que: "Posto que todo conhecimento da realidade é relativo ao sujeito, não se pode obter mudança no conhecimento que não seja por meio de mudança no sujeito, isto é em sua disposição interior. Tal como o agricultor só pode melhorar os resultados de suas colheitas se modifica as condições orgânicas das plantas exercendo ação direta sobre elas, que são as que devem produzir os frutos, e não sobre os frutos, que são o que são em correspondência com o estado das plantas produtoras; ou tal como o médico, que pode mudar o desgosto experimentado pelo enfermo a respeito do alimento, em gosto semelhante ao que sente o homem sadio, utilizando não já raciocínios para convencer o enfermo da falsidade de suas impressões, alteradas pela enfermidade, mas medicamentos que modificam seu estado orgânico, fonte e causa das impressões que experimenta; assim, o educador deve dirigir suas vistas para o hábito espiritual subjetivo do qual dependem as percepções e valorizações, as tendências e ações de seu educando, e esforçar-se por influir sobre elas atuando sobre sua causa, isto é, modificando o hábito do qual procedem, antes que trabalhar em vão por refutá-las como falsas e demonstrar a verdade das contrárias. [...] E assim, também, na educação é preciso produzir a mudança de um hábito em outro melhor." Michel Miaille, em sua "Uma Introdução Crítica ao Direito", ao apresentar seu livro, adverte: "Tal objetivo é, em primeiro lugar, pedagógico: trata-se de convidar aquele que inicia o estudo do direito a uma reflexão sobre aquilo que vai fazer. [...] Há, aparentemente, alguma lógica nesta posição: como poderia um neófito refletir sobre aquilo que não conhece ainda? Primeiro, é preciso aprender; poder-se-á, em seguida refletir. [...] Comecemos por um relembrar de vocabulário que fará compreender melhor o alcance da tarefa. Introduzir é um termo composto de duas palavras latinas: um advérbio (intro) e um verbo (ducere). Introduzir é conduzir de um lugar para outro, fazer penetrar num lugar novo. Ora, ao contrário do que se poderia facilmente pensar, esta deslocação de um lugar para outro, este movimento, não pode ser neutro. Não há introdução que se imponha por si mesma, pela lógica das coisas. Tomemos um exemplo para nos convencermos desta afirmação. A visita a uma casa desconhecida, sob a orientação de um guia, é sempre uma estranha experiência: o guia introduz-nos na casa, faz-vo-la visitar, faz-vos, de facto, descobrir as suas diferentes divisões. Mas há sempre portas que permanecem fechadas, zonas que se não visitam, e, muitas vezes, uma ordem de visita que não corresponde à lógica do edifício. Em suma, vocês descobriram essa casa "de uma certa maneira": essa introdução foi condicionada por imperativos práticos e não necessariamente pela ambição de dar um verdadeiro conhecimento do edifício. É, aliás, admissível que, se vocês conhecessem bem o guarda, tivessem podido passear sem restrições na casa, abrir as portas proibidas e visitar as zonas fechadas ao público. Em resumo, teriam um outro conhecimento dessa casa, porque teriam aí sido introduzidos de forma diferente. Quer dizer, então, se vocês fossem um dos habitantes dessa casa? Conhece-la-iam "do interior" - conheceriam os seus recantos familiares, as escadas ocultas, o desgaste produzido pelo tempo e a atmosfera íntima. Tudo se passa com se, nas três hipóteses que acabamos de imaginar, não houvesse uma casa, mas três edifícios, no fundo muito diferentes pelo conhecimento que temos deles.". Também, Paulo de Barros Carvalho, neste pequeno fragmento, descrevera: "Decompondo-se o fenômeno do conhecimento, encontramos a linguagem, sem o que o conhecimento não se fixa nem se transmite. Já existe um quantum de conhecimento na percepção, mas ele se realiza mesmo, na sua plenitude, no plano proposicional e, portanto, com a intervenção da linguagem. "Conhecer", ainda que experimente mais de uma acepção, significa "saber proposições sobre". Conheço determinado objeto na medida em que posso expedir enunciados sobre ele, de tal arte que o conhecimento se apresenta pela linguagem, mediante proposições descritivas ou indicativas.".
 
 
 

"Em Carta aos Jovens,

O russo Ivan Pavlov, Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina, certa feita escreveu uma carta aos jovens interessados pela pesquisa e pela ciência. A meu ver, não só jovens no sentido cronológico, mas também para todos aqueles que, independente da idade, estão a se iniciar no universo da pesquisa científica. Até porque, de resto, idade cronológica, por vezes, não atesta maturidade. Mas, o que realçou Pavlov aos jovens iniciantes em pesquisa/ciência? Falou de premissas básicas que, mutatis mutandis, com as mediações contextuais, têm muito a dizer contemporaneamente. Uma expressão russa da carta, tanto em língua portuguesa como inglesa, está traduzida como paixão. Possivelmente, por o que estou informado, não tem a ver com a paixão no sentido tradicional da nossa "raiz linguística" (que pode resultar até em sofrimento), mas diz respeito, sim, a 'entusiasmo comprometido com algo'. Reproduzo, a seguir, a versão da carta em língua portuguesa e inglesa - o cotejamento, entre as duas versões, pode revelar diferenças.
Pavlov: sobre os jovens e a ciência 
Carta aos Jovens 

Por Ivan Pavlov 

O que desejaria eu aos jovens de minha Pátria, consagrados à ciência?
Antes de tudo - constância. Nunca posso falar sem emoção sobre essa importante condição para o trabalho científico. Constância, constância e constância!
Desde o início de seus trabalhos, habituem-se a uma rigorosa constância na acumulação do conhecimento. 
Aprendam o ABC da Ciência antes de tentar galgar seu cume. Nunca acreditem no que se segue sem assimilar o que vem antes. Nunca tente dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições e hipóteses audaciosas. Como se alegra nossa vista com o jogo de cores dessa bolha de sabão - no entanto, ela, inevitavelmente, arrebenta e nada fica, além da confusão.
Acostume-se à discrição e à paciência. Aprendam o trabalho árduo da ciência. Estudem, comparem, acumulem fatos.
Ao contrário das asas perfeitas dos pássaros, a ciência nunca conseguirá alçar voo, nem se sustentar no espaço. Fatos - esta é a atmosfera do cientista. Sem eles, nunca poderemos voar. Sem eles, nossa teoria não passa de um esforço vazio.
Porém, estudem, experimentem, observem, esforcem-se para não abandonar os fatos à superfície. Não se transformem em arquivistas de fatos. Tentem penetrar no ministério de sua origem e, com perseverança, procurem as leis que os governam.
Em segundo lugar - sejam modestos. Nunca pensem que sabem tudo. E não se tenham em alta conta; possam ter sempre a coragem de dizer: sou ignorante. Não deixe que o orgulho os domine. Por causa dele, poderão obstinar-se, quando for necessário concordar; por causa dele, renunciarão ao conselho saudável e ao auxílio amigo; por causa dele, perderão a medida da objetividade.
No grupo que me foi dado dirigir, todos formavam uma mesma atmosfera. Estávamos todos atrelados a uma única tarefa e cada um agia segundo sua capacidade e possibilidades. Dificilmente era possível distinguir você próprio do resto do grupo. Mas dessa comunidade tirávamos proveito.
Em terceiro lugar - a paixão. Lembre-se de que a ciência exige que as pessoas se dediquem a ela durante a vida inteira. E se tivessem duas vidas, ainda assim não seria suficiente. A ciência demanda dos indivíduos grande tensão e forte paixão.
Sejam apaixonados por sua ciência e por suas pesquisas.
Nossa Pátria abre um vasto horizonte para os cientistas e é preciso reconhecer - a ciência generosamente nos introduz na vida de nosso país. Prossigam com o máximo de generosidade!
O que dizer sobre a situação de nossos jovens cientistas? Eis que aqui tudo é claro. A vocês muito foi dado, mas de vocês muito se exige. E para os jovens, assim como para nós, a questão de honra é ser digno de uma esperança maior, aquela que é depositada na ciência de nossa pátria.
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Tradução: Annibal Villela, in CASTRO, C. de M. A prática da pesquisa. São Paulo:  McGraW-Hill do Brasil, 1977".
 
     Assim é que, com esses fragmentos, deixamos à reflexão  por parte daqueles dispostos à aventura do conhecimento, sabendo que a linguagem da ciência é complexa e em constante mutação. Requer, por isso, intenso esforço a fim de se compreender e apreciar o mundo fascinante da ciência e de nossa época dominada pelas conquistas da eletrônica, energia nuclear, espaço, tempo etc., é preciso tentarmos o mistério da terminologia.

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