domingo, 20 de março de 2016

A Arte de Escrever Bem

     Dad Squarisi e Arlete Salvador escreveram, sob o título acima, excelente livro. Na apresentação, dizem: "É possível escrever bem. Escrever está na moda. As novas tecnologias de comunicação, quem diria, ressuscitaram o valor da escrita. Já não se escrevem cartas como antigamente, mas concisas mensagens eletrônicas. Já não se admitem relatórios longos e complexos. E os vestibulares? Estudante não entra na faculdade se falhar na redação. Nunca se precisou tanto da escrita quanto agora. Ensinar a escrever é tarefa para professores. Jornalistas podem contribuir para aprimorar a técnica de repórteres mais jovens. Profissionais da imprensa são forjados na prática. Trabalham com a experiência adquirida ao longo dos anos de atividade. Gerações deles foram educadas nos gritos das redações e na humilhação pública, quando suas matérias eram jogadas na lata do lixo. Ajuda vale mais que gritos. Este livro se propõe ajudar estudantes a escrever bem. Temos clareza das limitações do desafio. Escrever é atividade complexa, resultado de boa alfabetização, hábito da leitura, formação intelectual, acesso a boas fontes de informação e muita, muita prática. Além, é claro, de algo que vem de Deus ou do DNA, quem sabe? - o talento individual.[...]".
     Nesse caminho de ajuda, Luiz Antônio Marcuschi, ao apresentar o livro (Lutar com Palavras), da Professora Irandé Antunes, o faz: "TUDO O QUE VOCÊ QUERIA SABER SOBRE COMO CONSTRUIR UM BOM TEXTO SEM SE ESTRESSAR. Este trabalho da professora universitária e pesquisadora de língua portuguesa, Irandé Antunes, é mais do que um trabalho sobre a coesão e a coerência textuais. É, sobretudo, um exercício de tradução, em palavras simples e compreensíveis ao leigo, daqueles conceitos teóricos e técnicos que aparecem nos sisudos manuais de língua textual. E que muitas vezes passam, sem qualquer mediação explicativa, para os livros didáticos, e a professora ou o professor sequer conseguem saber do que se trata. A capacidade de dizer de maneira simples o complexo é uma das tantas virtudes da obra que você está começando a ler. De fato, é comum que as professoras e os professores, no ensino fundamental e médio, e também no nível universitário, assinalem nas margens de redações ou de trabalhos de curso expressões como "falta coesão" ou "não tem coerência". Mas o que está mesmo faltando neste caso? O que deveria ser feito para suprir a tal lacuna de coesão e coerência? É disso que esta breve e substantiva análise trata com naturalidade e muita intimidade, com se estivesse ensinando a fazer uma comida gostosa. E tudo isso sem dar receitas simples ou superficiais, além de mostrar a segurança de quem tem uma longa experiência neste tipo de assunto. Digo isto porque conheço Irandé Antunes e seu trabalho sério de há muito tempo, desde que se ocupava dessas questões no começo da década de 1980, quando escreveu sua dissertação de mestrado sob minha orientação, tendo em seguida desenvolvido tese de doutorado sobre a coesão textual na Universidade de Lisboa, que acabou se transformando no primeiro livro didático exclusivamente ao assunto no Brasil. Esta familiaridade com o tema, aliada a uma enorme experiência com professores da rede pública no ensino fundamental e médio, bem como em universidades públicas e particulares, deu à autora uma sensibilidade incomum para o tom adequado à exposição que atinge o leigo e não enerva o técnico e teórico exigente, pois não é superficial. Essas virtudes vêm aqui aliadas a um texto muito bem humorado e escrito com paixão e carinho, pensando sempre nos leitores. Sob o ponto de vista teórico, a autora mostra parte da ideia de que a língua não se acha confinada às regras da gramática, nem é uma questão de certo e errado, mas é uma atividade social que cria as condições da interação e dos processos comunicativos em geral. Além disso, sustenta que "escrever é, como falar, uma atividade de interação, de intercâmbio verbal. Por isso é que não tem sentido escrever quando não se está procurando agir com outro, trocar com alguém alguma informação, alguma ideia, dizer-lhe algo, sob algum pretexto". Escrever é uma atividade que exige um movimento para o outro, definindo este outro como seu interlocutor. E é nesta relação que o próprio autor se constitui. Ninguém escreve sem um destinatário. É claro que, nessa visão, o que mais conta não vai ser a ortografia nem a simples regra de concordância e sim o desenvolvimento das ideias e a distribuição dos tópicos, a seleção lexical, a contextualização, o estilo que vão produzindo a adequação da escrita. Para autora, "isso equivale a admitir que a coerência do texto é: linguística, mas é também contextual, extralinguística, pragmática, enfim, no sentido de que depende também de outros fatores que não aqueles puramente internos à língua". A língua enquanto sistema de formas não comanda tudo. Baseada nessas premissas, Irandé Antunes, conhecida por seu trabalhos sobre língua portuguesa numa linha inovadora e ligada à linguística textual e à análise da sociointeração, desenvolve uma série de argumentos mostrando como os textos são muito mais do que simples formas. Como apontado, o núcleo das observações recai nos processos de coesão e coerência. Mas o que é coesão? Como observá-la? Que faz o aluno quando o professor escreve que seu texto não tem coesão ou lhe falta coerência? Certamente, não se trata de trocar uma palavra, acrescentar ou mudar um conectivo, nem de melhorar o parágrafo ou adequar os tempos verbais e as concordâncias verbo-nominais. Lendo o livro, ficará claro do que se trata, efetivamente. Esta clareza é dada também por outra característica singular da autora: a farta exemplificação com trechos da literatura, do jornalismo e de obras científicas. Em suma, aqui o leitor encontra uma introdução à produção textual escrita em linguagem acessível. Segundo as próprias palavras da autora, ela pretende trazer algumas noções básicas, acerca da propriedade textual da coesão e de sua relação com a coerência, com o objetivo de se compreender mais ainda essas noções e, assim desenvolver nossa competência para falar, ouvir, ler e escrever textos, com mais relevância, consistência e adequação. Parece pouco, mas é muito, e talvez seja quase tudo o de que necessitamos para tratar questão tão difícil e ao mesmo tempo tão decisiva. [...] Neste livro você vai aprender como organizar o aspecto linguístico em consonância com este algo mais. E o mais importante: você não precisa ser um técnico em linguística para entender do que se trata e começar a agir na sua produção textual com maior segurança. Aproveite!"

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