terça-feira, 16 de junho de 2015

Conselho aos Meus Filhos

     Vale a pena divulgar. Trata-se de um discurso proferido, na noite de 26 de abril de 1995, por Aloysio Tavares Picanço, por ocasião da posse, junto da Academia Fluminense de Letras.

     Sejam sempre honestos, embora jamais cheguem a possuir fortuna, pois, mais do que dinheiro, vale uma reputação de honestidade, que é tesouro do mais alto valor. A pobreza honesta inspira respeito e simpatia.
     Não transijam com o que não serve, na suposição de que sairão do mal quando bem entenderem, porquanto, quando o pretenderem fazer, será, - não raro, - tarde demais. O sinete do mal muitas vezes é imposto logo começo. O carvão tisna desde que nele se toque. Fujam, pois, sempre do mal.
     Não se apaixonem com coisas da vida, porquanto o mundo será sempre o que vem sendo há milênios: nem muito bom, nem muito ruim.
     Tenham precaução com experientes da vida, cheios de má fé: eles costumam aproveitar-se do entusiasmo nem sempre refletidos dos moços.
     Não tenham preocupação de fazer carreira gloriosa na vida: trabalhem em construção sólida, desprezando as ideias de realce passageiro.
     Sejam amigos uns dos outros, porque os de casa, em regra, nunca estão tanto com os seus como nos momentos de dificuldade, de insucesso e de sofrimento.
     Pratiquem sempre a caridade, que se manifesta por múltiplas formas. Um olhar de bondade, por exemplo, pode dar grande conforto a quem sofre física ou moralmente.
     Nunca desprezem o sofrimento alheio, pois a quem sofre já basta a sua tortura.
     Sejam sempre altivos, independentes, sem jactância. Jamais cortejem o rico ou o poderoso visando qualquer interesse. Mas sejam educados para com todos: grandes ou pequenos.
     Não queiram mal a quem trabalhou honestamente e soube guardar. Tenham, porém, piedade dos fracos ou pequenos.
     Sejam firmes, quanto à crença, quanto às ideias, mas respeitem sempre as crenças e as ideias alheias.
     Não suponham estar sempre com a razão, porque não há privilégio relativamente ao bom senso.
     Não deixem que se escoe um único dia sem que pratiquem um ato bom, generoso.
     Até prova em contrário, façam do semelhante bom juízo.
     Sejam amáveis sem excesso, sem bondosos sem limite, sejam educados a todo momento, sejam verdadeiros até a morte, sejam leais, e cultivem a gratidão com carinho.
     Não neguem ao pobre o que lhes não faça falta.
     Não deixem de dar água, e comida, a quem tem sede, e fome, salvo se não puderem.
     Respeitem a todos, para que sejam respeitados.
     Sejam moderados no andar, no falar, no agir e procedam sempre com elevação, seriedade e boa vontade para com todos.
     Nunca digam que proceder bem não adianta, porque, em última análise, a tranquilidade de consciência será grande recompensa.
     Não façam mau juízo de ninguém, porque, fazendo-o, correrão o risco de praticar a injustiça.
     Não se preocupem com críticas desrazoáveis, filhas quase sempre do despeito, da maldade, da inveja.
     Não temam, desde que haja pureza de coração. Não façam e não desejem mal a ninguém.
     Encarem a vida com simpatia, com alegria, com confiança e bondade.
     Não ambicionem posições, salvo se elas vierem naturalmente, pois os maiores espíritos da humanidade sempre viveram humildemente.
     Nunca pratiquem ato de que se possem envergonhar.
     Creiam sempre em Deus, porque isso significa grandeza espiritual, e ajam de conformidade com essa crença.
      Sejam patriotas, porque a pátria é um imenso tesouro. Longe dela, o homem sofre pelo menos saudade. Nela o indivíduo está como se estivesse em casa. Queiram, todavia, bem aos que vierem de fora, com pensamentos nobres.
     Realizem a vida de modo que, ao chegarem ao fim da existência, possam contemplar um passado limpo, digno.
     Continuem a viver como viveram até agora, e tudo correrá bem, pois vivem, com acerto, muitos outros.

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