sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Espelho e a Intencionalidade

     O espelho é descrito como superfície suficientemente polida, de vidro ou metal, capaz de refletir a luz com maior ou menor intensidade. Quanto maior a capacidade de reflexão, tanto maior será o poder refletor. Era conhecido desde a Antiguidade pelos egípcios, gregos e romanos, que o faziam de latão, prata e ouro. Na Itália medieval, as damas conduziam espelhos redondos presos aos cintos, geralmente feitos de ouro ou de prata polidos por um abrasivo especial. No início do séc. XIV, artífices venezianos descobriram a forma de fazê-los de vidro, revestindo uma superfície da lâmina com uma tênue camada de uma substância composta de mercúrio e estanho. Muitas são as utilizações em diferentes instrumentos ópticos e na pesquisa científica, além das aplicações domésticas. Classificam-se de acordo com a superfície em planos e curvos. Estes, em côncavos, convexos, bicôncavos e biconvexos. As imagens fornecidas pelos espelhos podem ser reais, visíveis apenas quando projetadas sobre anteparo, e virtuais, que são vistas diretamente e formam-se através dele. Os planos fornecem virtuais, do mesmo tamanho que o objeto e simétricas em relação a eles. Espelhos esféricos são calotas esféricas refletoras que produzem imagens reais ou virtuais, conforme a posição do objeto. São bastante frágeis e por serem objetos inanimados, faltam-lhes as virtudes encontradas nos domínios dos saberes sobre o homem, como por exemplo, a prudência. Com efeito, temos a metáfora do caso do espelho da Branca de Neve em que a prudência sinalizava que o caminho mais seguro era continuar dizendo à rainha malvada as coisas que ela gostava de ouvir. Mas o espelho, talvez iniciado na moralidade neutra, moralista, fixista (sem equilíbrio móvel e dinâmico requerido pelos saberes sobre o homem), insistia em só dizer a verdade rigidamente.Tanto assim que, quando Branca de Neve ficou mais bonita que a madrasta, não teve dúvidas: disse tudo. Contudo, felizmente, o caçador, não educado segundo a ética da neutralidade e da liberdade de valores, inventou uma saída benevolente, que naquelas circunstâncias era a melhor coisa que podia fazer para proteger uma vida. Diante disso tudo, o fato é que quem lida com os saberes sobre o comportamento do homem nunca pode, ante uma indagação que possa afetar a vida ou a integridade de alguém, olvidar a intencionalidade que está por trás da indagação. É necessário entender que nem tudo o que se ouve deve ser repetido. Antes de responder é prudente saber o que anima a pergunta ou qual o propósito dela, pois, ninguém é obrigado a responder a todas as indagações. Não será como o pobre espelho que não pode ser responsabilizado pelo plano sinistro que a rainha arquitetou para matar a menina. Em qualquer situação, adotar cautela, especialmente se é a madrasta da Branca de Neve quem faz a pergunta.

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