domingo, 3 de setembro de 2017

Escola vista pelo Educador José Pacheco

     "Há formas de mudar e construir uma escola democrática, diz José Pacheco (http://bit.ly/2xxi76x), em resposta a sete perguntas formuladas.
1ª) Escola sem partido combina com democracia? Eu mantenho um grande diálogo com os idealizadores da escola sem partido. A radicalidade é má conselheira. Eu passei 24 anos num país onde a escola era sem partido, ou seja, de um partido único. Era a ditadura de Salazar. Então o que eu penso é que as escolas devem ser de todos os partidos, de todos os credos. Devem privilegiar a diferença, a diversidade. Isso tudo está o ser de comunicação biológica entre diferentes impressões da vida, do mundo. E portanto, quero uma escola arco-íris, de todas as cores, de todos os partidos, onde haja diálogo. Uma comunicação biológica fluente, onde haja respeito e opção de cada um, onde não haja dotrinação.
2ª) Como privilegiar o lúdico em vez de conteudista? Como ensino lúdico, há então outro modo de aprender? Não na forma etimologicamente a origem da palavra escola. Ela é de origem grega; escola é como aprender a fazer, como aprender a brincar. Quando se tem que ter significado daquilo que aprende e nas escolas como as outras não existe. Tem que saber porque se aprende e esse sentido lúdico é que é o segredo que cada um nós tem dentro de si; que a criação estimula a criatividade. Naquilo que são considerados os sentidos do milênio, naquilo que são considerados os objetivos do século XXI. E exatamente através do lúdico que aprendemos. Quando os professores limitam em suas aulas a tentar transmitir conteúdos, estão fazendo um trabalho inútil. Ninguém ensina nada a ninguém. Aprendemos uns com os outros ludicamente. Fazendo que se aprende. Indo em busca, uma aventura do conhecimento. Indo em busca de informação daquilo que eu preciso.
3ª) As grades curriculares mantém engaiolados o pensamento crítico? As escolas competem entre produzir cultura e conhecimento. Em todo vocabulário que ainda hoje se utiliza, ela reflete uma determinada cultura. Então as escolas não produzem cultura social. Porque a palavra não produz cultura. Quando se fala de grade, estamos a falar de "grade". Quando se fala de evasão = "prisão". Quando se fala de carga horária, estamos a falar de coisa de jegue e não de gente. Então o que nós temos de considerar é que a transmissão é algo mítico. Uma ideia peregrina que vem da revolução industrial do século XVIII, XIX, da criação da escola, onde supostamente a pessoa transmite alguma coisa. Não se transmite absolutamente nada. Numa aula, nada se aprende. Ensina-se quando alguém deseja aprender, ou seja, que aprendizagem seja significativa, integradora, justificada, enfim com os princípios gerais da aprendizagem. Fora disso é uma ilusão pensar que o professor ensina. Não ensina.
4ª) Como trabalhar a interdisciplinaridade? Como pode haver interdisciplinaridade se a pessoa está sozinha em sua sala de aula? Transdisciplinaridade também não. O que tem de haver é indisciplinaridade. Está tudo ligado. Nós temos de passar pela fase ainda da multidisciplinaridade e da transdisciplinaridade. Como acontece? Muito simples. D cuidar, ou seja, criar condições da autonomia pedagógica. O que significa um bom salário do professor; o resto que o professor não faça aquilo que se faz hoje, que é dar aula que é inútil; que o professor se veja valorizado; que o estatuto do professor se eleve socialmente; que haja autonomia nas escolas, que hoje não existe. As escolas têm que se configurar; têm que se partir da aula daquilo que as pessoas sabem, valorizando aquilo que as pessoas sabem para fazer aquilo que eu chamo as novas construções sociais de aprendizagem. E essas novas construções sociais não é cosmética. Não é por computador na sala de aula - isso não vale nada; não fazer no velho sistema; uma hortazinha, uma orientação ao ioga. Isso só vai mitigar o velho modelo. É substituir o velho modelo, gradualmente, sem fazer das crianças e pessoas cobaia de laboratório - nos merecem respeito. Agindo, fazendo em equipe com projeto de fazimento política e pedagógicos (...).
5ª) Como lidar com alunos indisciplinados? Não há aluno indisciplinado. Eu não vejo aluno indisciplinado. Uso uma frase: "...dizem das águas do rio que são violentas e nada dizem das margens que as comprimem", onde é que está a autonomia do aluno? Onde é que está o respeito pelo aluno? A indisciplina é filha do autoritarismo casado com a permissividade. A indisciplina surge da prática do modelo do século XIX com o do século XXI. A indisciplina existe quando são os professores que instituem as regras de regulação. Não há indisciplinados. Não há alunos violentos. Há alunos violentados. Há alunos não respeitados. Há professores não respeitados.
6ª) Como uma escola democrática aborda a defasagem? Não há defasagem no aprendizado. Há inutilidade na ensinagem. Há defasagem porque? Porque há anos, sérias? A pergunta que faço é muito simples. Porque há a segmentação? A partir daí, se não me disserem porque eu pergunto o que é essa defasagem? E se os outros alunos não aprendem porque é que não aprendem? Quando uma ideia parte da fórmula prova brasil mais fluxo escolar já parte do princípio de que a estola tem que estar segmentada em anteciclos. Porque há separação entre ensino fundamental 1 e fundamental 2? Porque há separação em fundamental 2 e ensino médio? Porque há ensino médio e superior? Onde é que está o ensino inferior? Em que século estamos? Não estou zangado com quem fez a pergunta. Estou zangado comigo. Com minha cultura pessoas e profissional, que é o pior dos inimigos. Então eu peço que as pessoas pensem e sobretudo sintam; que percebam o respeito ou não com o outro (...). Deus tenha piedade de suas almas porque estão a prejudicar crianças e jovens e isso é imperdoável."

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