domingo, 11 de setembro de 2016

Esquemas Mentais

     Colhe-se do pensamento sufista: "O espírito dorme na pedra, respira nas plantas, move-se nos animais e pensa no homem". Assim, Teilhard de Chardin escrevera que a consciência humana tem raízes que remontam até os primórdios daquilo que chamamos de matéria puramente bruta e inerte. Com maior amplitude, encontra-se no livro persa 'Mathanawi' do autor Jalalu'I-Din Rumi (1207-1273 d.C), o seguinte pensamento: "Morri mineral, converti-me em planta. Morri planta e nasci animal. Morri animal e me converti em homem. Por que, pois, hei de temer a alguém?". E mais: "Tempos houve em que o ser humano levava uma vida em estado selvagem. Não havia nem recompensa nem castigo para o mal ou o bem que praticava. Então, os homens imaginaram leis para infligir castigo ao pecador, a fim de, destarte, a justiça poder exercer domínio igual sobre todos e não permitir a violência. Era castigado, quem pecava. Mas, as leis tão-somente atingiam a violência aberta, manifesta, não, porém, os crimes ocultos. Então, alguém, mais inteligente, engendrou o medo dos deuses, para que os homens temessem não apenas as consequências dos seus feitos visíveis, mas, igualmente, das palavras e, até, dos pensamentos mais íntimos, mais secretos. Nascera a religião. Esse homem, mais inteligente, ensinava que existe um ser sobrenatural, imortal, capaz de perceber tudo quanto é feito, dito ou pensado. A ficção foi recebida com alegria e prazer. A residência dos deuses foi posta no céu de onde provêm as bênçãos e os castigos, tais como chuvas, trovões e relâmpagos. O homem que descobriu este expediente cercou a humanidade com uma atmosfera de medo. Convenceu-os, assim, a aceitar a raça dos deuses" (Benjamin Farrington - A doutrina de Epicuro, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967).
     Parece que, desde sempre, o homem buscou saber de si e do exterior. Sabe-se ou supõe saber que os registros das indagações deram-se com os poetas, depois com profetas, depois com os filósofos, depois com cientistas. Também, percebe-se, que desde sempre, existiram e continuam a existir os mitos. O mito - do grego "mythos" = discurso, narrativa, boato, legenda, fábula, apólogo. Originariamente, o termo significava uma narrativa fantasiosa da genealogia e dos feitos das divindades do politeísmo registrados nas teogonias. Como narrações imaginosas, distinguiam-se dos escritos propriamente históricos, pelo fato de não se enquadrarem dentro das coordenadas do espaço e to tempo histórico - revela-se um esquema mental restritivo. Ele conduz ao maniqueísmo (doutrina fundada por Mani no século III, na Pérsia, e segundo a qual o Universo é a criação de dois princípios que se combatem: o bem ou Deus, e o mal ou o Diabo; por extensão, toda doutrina fundada nos dois princípios opostos do bem e do mal). Por exemplo, por esse esquema mental mitológico, ainda atualmente, existe a ideia de que a sabedoria é atributo dos idosos. Isso, contudo, não se verifica. Tanto o idoso poderá tornar-se sábio como o jovem. As pesquisas apontam que há jovens com sabedoria e idosos que não passaram da idade mental típica da infância. Com efeito: "[...] a sabedoria não tem preferências pelo poder, pela riqueza ou pela idade juvenil ou senil. O que importa é a capacidade de discernir o momento oportuno e a ação certa para atingir com eficiência.[...] Toda vida humana é uma espécie de culto exterior ao deus que ela adora em seu interior." (Ivo Storniolo - Trabalho e Felicidade, Paulus, 2002, p. 69 e 72). Como dizia alguém, a vida é um grande problema, por sua vez dividido em muitos pequenos ou grandes problemas. De modo que viver é resolver problemas, e viver bem é ser capaz de resolver o problema que se encontrar pela frente. Quanto a isso, devemos substituir a palavra problema por desafio. É que problema nunca se resolve e desafio se supera. Tocando em frente, portanto. Conforme Erich Fromm, há milhares de anos foi dito a uma pequena tribo: "Coloquei diante de vós a vida e a morte, a graça e a maldição - escolhestes a vida.". Esta é também a nossa, escolha.

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